quarta-feira, 28 de junho de 2006

Conversas com moças-máquinas e uma lan-house repleta de não-silêncio

Amigos leitores, não desejo a nenhum de vocês o que ando vivendo, no mundo da Internet. Sem meu notebook, estou sendo obrigado a usar as tais "lan-house", em diversos lugares do Recife. Há tempos não convivo com uma gente tão desagradável e barulhenta. A questão é simples: os tarados por jogos fazem uma espécie de competição em grupo, e dos 20 computadores ligados, agora, deve ter uns dois ou três com gente olhando email ou reparando no tal Orkut, o frisson do momento na Internet. O restante é só alucinado, tarado, fissurado e mal-educado. Ao meu lado, um sujeito de uns 30 anos dá berros e uiva, porque perdeu não sei o que, um monstro qualquer parece que devorou uma parte de seu cérebro. Ele grita ao meu lado, e não pensa que eu gostaria só de um pouco de silêncio.

Mas vamos à crônica de hoje, que estou inspiradíssimo, vocês nem imaginam, especialmente das três tentativas que fiz, hoje, para resolver pendências financeiras pelo telefone. Descobri tardiamente que o Brasil está ficando um país burro, e me senti meio burro também.

Primeiro, liguei para a Telemar, para resolver uma e somente uma reles conta atrasada. Por causa desta besteirinha, não estou podendo ligar para os amigos. Descobri que a figura famosa da atendente, aquela que diz, num sotaque paulistano "eu vou estar te mandando uma segunda via da conta", quando poderia dizer "vou te mandar a cópia da conta". Pois bem, agora você liga, uma voz melíflua diz que é a "atendente virtual" da empresa citada, e pede para que eu fale meu problema. Não gosto de conversar com máquinas, muito menos de falar meus problemas para máquinas. Falo meio constrangido meu problema, a moça-máquina responde que não entendeu. Ficamos nessa lenga-lenga, digo o problema, ela diz que tenho uma conta atrasada, e foi justamente por isso que eu liguei. Lá pelas tantas, a moça-máquina desliga o telefone na minha cara.

Depois de 37 minutos conversando com ninguém, fiquei sabendo que vão mandar uma cópia da minha conta atrasada em até 10 dias, e respiro aliviado. Mas, interiormente, me vem uma chateação afetiva - durante muitos minutos, conversei com uma voz gravada, impessoal, distante, cavernosa. Cansado do meu drama espiritual, vou tomar um café e aqui na esquina, quando chega Ricardo, o taxista. Explico meu problema, em 22 atos, ele mata a charada:

"É só tu ir numa farmácia Pague Menos, que a segunda via sai na hora".

Me sinto burro.

Ligo para a Cabo Mais, porque não estou mais usando tanto a Internet, e não preciso mais de banda larga. Mais uma confusão dos diabos. Falo com três atendentes, que pedem meus dados religiosamente, entrego os dados, e no final da ligação, sou informado que a ligação vai ser transferida para a "área de cancelamento". Me avisam que terei que pagar mais um mês de serviço, porque não avisei com um mês de antecedência, aquele caralho todo, para me arrancar uma grana extra.

No final, me informam também que terei que efetuar o pagamento em Setúbal, um bairro muito longe de todas as minhas coisas, do outro lado da cidade, e nesse momento eu dei a gota serena. Reclamei do atendimento, da falta de atenção, lembrei que no futuro eu poderia querer uma empresa de internet, e não usaria a Cabo Mais, que era falta de respeito, a moça escutou com aquela cara de sempre e disse um "tudo bem, senhor". Tudo bem nada, minha filha, cliente precisa ser melhor tratado, eu nunca mais vou querer serviços da Cabo Mais.

Mas pior que isso tudo é mesmo a lan-house aqui de Casa Forte, onde moro. Está lotada até a tampa, e tem gente à beça com aquela carinha de maluco. Poderiam estar jogando uma boa pelada, na calçada. O cara ao lado urrou há pouco: "caralho, que leg da porra!"

É, amigo, é um leg da porra mesmo. Vou sair daqui, correndo, que está me dando dor de cabeça, e vai chegando o entardecer no Recife. Amanhã tentarei escrever algo decente, num lugar qual ermo, qual incessantes sussurros de noites indormidas em hotéis baratos, como dizia o velho T.S.Eliot, que não me deixa mentir.

Quanto à Copa do Mundo, aqui vai um desabafo: essa TV Globo está transformando a competição em um exercício de estupidez. Imploro transmissões dos jogos em silêncio, em respeiro aos nossos ouvidos e corações.

Vamos que vamos.

15 comentários:

Anônimo disse...

To com "saudades" de suas crônicas. Abraços e melhoras para o seu humor...

Anônimo disse...

É isso aí Samarone! Brasil é Brasil... e Recife então!
Coisas de nossa terrinha!
Mas mesmo assim gosto dela! rsrsrs
Bjs

Anônimo disse...

Caro Samarone,

Se servir de consolo acredito que a Telemar é um problema na vida da maioria dos Pernambucanos, inclusive na minha! E a Cabo Mais, minha nossa, sem comentários! Nunca vi tanta capacidade pra irritar o consumidor.Provavelmente devem ter te mandado pra uma rua chamada Capitão Zuzinha, me recuso a sair da minha casa pra pagar uma conta numa rua chamada Capitão Zuzinha. Eles não facilitam meeesmo.

Melhoras!!!

Ps: Também odeio lan-house

Anônimo disse...

Meu velho, "muita hora nessa calma" (como diz alguém por aí) quando precisar falar com essas não-pessoas que nos atendem por telefone. Samarone, descobri outro dia fuçando uma banca de revista uma que se chama VIDA SIMPLES. Veja só a que ponto chegamos nessa tronchura que o ser humano faz consigo mesmo: alguém precisou criar uma revista para ensinar como ter uma vida simples. Confesso que tive vontade de dar uma folheada, mas me recusei com medo de descobrir que já não sei mais o que é uma vida simples.

Anônimo disse...

Amanda Sena, isso que faz a Cabo Mais com seus clientes é de lascar mesmo...mas não fique com raiva da rua por causa do nome. É que o Capitão Zuzinha é figura importante para nós, pernambucanos: é ele o autor do primeiro frevo-de-rua gravado como tal, quando essa música maravilhosa concluía sua transição,a partir dos dobrados das banads marciais (quem diz é o jornalista Mário Melo). Foi o Capitão Zuzinha também o cara contratado pela RCA-Victor, do Rio, para ir lá ensinar os músicos a tocar mais ou menos parecido com os músicos daqui, nas gravações feitas a partir dos anos 30 para todo o Brasil. Enfim, o velho Zuzinha deu sua contribuição pra nossa História, e não nada a ver com essa sacanagem da Cabo Mais...

Anônimo disse...

POr que voce cancelou a internet banda larga? Acho que vc precisa se conecta com o mundo. O valor não é tão alto assim. Voce poderia continuar escrevendo em casa, com calma. Falar com pessoas. Ter acesso a dados, noticias. Atualmente precisamos da internet. Trabalhamos com a globalização das informações, noticias. Sei hoje que as meninas do Camarões sofrem mutilações nos seios para poder frequentar a escola, pois os seios se desenvolverem elas teram que iniciar a vida sexual e assim não poderam mais ter acesso a escola. Sei, hoje, que as mulheres em "blangadesk" sofrem violencia com acido jogado no rosto, por maridos, namorados ciumentos ou por qualquer pessoa da sociedade. Ou seja, temos muitas informações na internet que podemos usar para construir nossas referencias. Acho que voce não poderia ficar sem banda larga em casa. Voce é formador de opinião e precisa tem elementos para formar.Com relação telemar, cabo mais, Lan louse, rede globo, tudo isto é parte de um todo que é a nossa sociedade. É isto, desrespeito geral...
"Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver.Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar"Bernardo Soares

Anônimo disse...

morri de rir com sua crônica aparentemente mal-humorada. Estou exatamente agora numa Lan House com crianças de todas as idades a berrar e matar uns aos outros sem parar. Confesso que tenho medo de toda essa geração.
Em alguns momentos viro pra trás apreensiva, com medo de que errem o alvo, e a rajada da metralhadora venha direto em cima de mim, que olho meus e-mails inocentemente.
Um leg da porra parceiro...
(e ainda criando coragem para enviar todas as catas)
saudades de ti samito
beijos

Anônimo disse...

Ninguém merece o Galvão Bueno, que deveria mudar seu nome para Galvão "Male", e o Arnaldo Cézar Coelho, ou "Rato"? Tem que ter muito saco p ouvir os comentários furados! Os caras conseguem, além de fazer comentários ridículos, não enxergar o que acontece durante o jogo...é brincadeira. Abaixo a exclusividade de transmissão.

Anônimo disse...

Sama,

Concordo plenamente, os comentários durante o jogo são um saco e ainda por cima super para baixo. O Brasil tá ganhando o jogo e neguinho fica azarando o placar... fora os comentários e viva a narração pura e simples do trajeto da bola.
Beijos,
Eu

Anônimo disse...

Julio Vila, me referi ao nome da rua pura e simplesmente por ter achado um nome engraçado e depois por ter descoberto que ela fica a quilometros de distância da minha casa. Não quis de forma alguma minimizar a importância de seu homenageado. Confesso que realmente não o conhecia e agradeço por seu esclarecimento. E deixo registrado que sou fã do nosso frevo, apesar de leiga em muitos quesitos musicais.
Por tanto, muito obrigada pela sua intervenção, de agora em diante só terei raiva da Cabo Mais e da distância da rua, em respeito ao Capitão Zuzinha!!

Mariana Mesquita disse...

Sama,
Foi massa ter encontrado contigo lá em Seu Vital.
Também já tive minha cota de lan houses, e de usuários mal educados. Tinha até um adolescente que passava a tarde comendo elma chips com coca e arrotando e peidando no recinto, pouco se lixando comigo ou com quem mais estivesse ao redor. A grande dica, se voce for um bacurau que nem eu, é só ir lá depois das 22h30. Qualquer coisa me diz que eu te dou o toque de uma lan 24h legal, aqui em Casa Forte. Cheiro! E se precisar saber onde fica a tal Capitão Zuzinha, me diz que eu te explico.

Anônimo disse...

Pior que ter que esperar a conta ou seja lá o que for que vão estar nos enviando, é ter que ouvir Pour Elise. Aproveitando a deixa, toda vez que um/a atendente de telemarketing fica gerundiando nos meus ouvidos eu corrijo a frase e deixo eles louquinhos. Os pobres só sabem responder com fórmulas decoradas e ficam perdidões.

Anônimo disse...

Valeu, Amanda, vamos deixar o zuzinha descansar em paz,
e vamos continuar mandando praquele lugar a cabo mais...
Um abraço pra você !

Anônimo disse...

ufa!

cometaurbano disse...

Sama,

não podemos exercer de forma pontual sequer as relações de consumo que são claras e regulamentadas por um código de leis que a princípio deveria nos defender. As opções que temos? Comprar a briga, espernear e vermois que só teremos dor de cabeça no final ou optarmos pela submissão a serviços precarizados de empresas como as citadas por vc. Menos consumo, menos aborrecimentos. Xô cartões de créditos, xô bancos, xô atendentes virtuais. Estou quase lendo a revista "vida simples" citada pelo seu leitor. Abração do mano PH