Foi no domingo de manhã, após jogar uma pelada razoável com meus amigos do “Caducos Futebol Clube”, no Poço da Panela, que me ocorreu esta saudade repentina, diria que se tratou mesmo de uma urgência de gente. Peguei a agenda e comecei a dar uns telefonemas. Procurei os nomes de pessoas que não venho encontrando, por causa das coisas da vida, até por falta de cuidado mesmo. Liguei para minha amiga Luzilá, mas Luzilá não vale, porque ela é minha vizinha, no Poço da Panela, e de vez em quando estou por lá, para conversarmos sobre literatura e a vida, que são a mesma coisa, no final das contas.
Liguei principalmente para pegar o telefonema de um casal muito querido, o Marcus Galindo e a Stellinha. Meu deus, há quantos meses não troco umas palavras, não tomo com ele sum reles café de padaria! Lembro que no período em que eles moravam na Holanda, fazendo os doutorados da vida, a gente se comunicava bastante, era email para tudo que era lado, tínhamos notícias de como andava a vida, sempre tínhamos umas linhas para dedicar ao outro, parece que a saudade se instala imediatamente, logo que a gente sai da cidade em que vive. Se a gente for para o exterior, então a saudade vira quase uma doença crônica. Nós brasileiros, somos saudosos de tudo. Mas, como estamos no Recife, parece que podemos nos dar ao luxo de um encontro perdido, ocasional, entre um trabalho e outro. Isso às vezes demora meses.
Vou aqui mudando o rumo da prosa: quero mais encontros intencionais, menos ocasionais. Tenho sentido uma urgência de amigos.
Conversei um bom pedaço com o Marquinho, depois com Stella. Se brincarmos, não nos vemos há mais de um ano, o que é um absurdo. Como estou ficando velho rapidamente, e priorizando outras coisas, não vou mais ficar esperando: esta semana, irei à UFPE, ter com os dois. Quero ir num dia sossegado, para botarmos as conversas e saudades em dia.
Depois liguei para o Bruno Fontes, que foi meu aluno de “Técnica de Reportagem” na Católica. O Bruno, que agora é repórter de TV, sempre chega com aquele sorrisão amigo, aquela conversa boa, e nunca mais nos falamos pra valer. A última vez que o vi, foi naquele fatídico, diria trágico dia, em que meu Santinha perdeu o título nos pênaltis, para o adversário rubronegro. Bruno estava trabalhando, em campo, e prometeu uma bela matéria sobre o título, mas não deu. No dia do casamento dele, eu estava em São Paulo, e não pude ir.
Por falar nisso, estou num débito infinito com o meu velho e grande amigo Valdemir Leite, o Valzinho, amigo desde as primeiras aulas do curso de Jornalismo, na Unicap. Ele trabalha muito, tem duas filhotas, a agenda é cheia, eu não trabalho tanto assim, não tenho filhos, então cá entre nós: o que custa a gente almoçar juntos uma vez por semana?
Não sei se foi nostalgia o que me deu, talvez o sentimento de que certas pessoas não podem ficar tão distantes, que a amizade vale muito mais que ouro, num mundo repleto de competições e vaidades. No fundo, me deu uma vontade de compartilhar coisas, saber como andam as vidas, o que andou acontecendo nos últimos tempos. A vida às vezes vai passando, e essas conversas bestas, com gente querida, trazem alento, esperança, renovam o espírito.
Dei sorte na sexta-feira, quando fui à Prefeitura, tirar um documento. Na descida, esbarrei com a Eleonora, minha ex-terapeuta, que agora está morando no interior (desconfio que ela foi para o interior depois de tentar, em vão, durante uns dois anos, consertar meu cabeção). Sentamos por ali mesmo e conversamos um bocado sobre a vida. Não nos encontrávamos desde outubro do ano passado. Depois tomamos um café, na Livraria Cultura. Valeu mais que qualquer terapia.
Aos amigos, vai o aviso: acabou a folga. Cansei de "vamos marcar um café", coisas deste tpio. Aos que moram longe, fiquem sabendo que já comprei um pacote de envelopes. Voltarei a mandar minhas cartas sem futuro, mas cheias de saudades do presente.
3 comentários:
Se tem uma coisa na vida que vale a pena é ter amigos, e além de tê-los, poder estar sempre em companhia dos mesmos...tenho um grupo de amigos que encontro sempre, mantemos contato através de eventos do tipo "roda de viola", que este ano tá na 4ª edição, aniversários (ao menos dois por ano p reunir a galera), entre outras realizações...cultivar as amizades é uma "tarefa" de puro prazer...abração.
procuro o que falar
para dizer um segredo
mas, conto nos dedos
quem poderia me escutar!
* q letra miúda esse texto.
Pena que não sou tua amiga para tomarmos juntos um reles café de padaria falando de literatura e vida...
"Cada amigo representa um mundo em nós, e é apenas através deste encontro que este mundo nasce" (Anaïs Nin, Diários)
Postar um comentário