terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A carta

Voltei de Cuba com uma pequena carta, escrita pelo meu amigo Maicon, endereçada à sua mãe, que mora na rua das Pernambucanas.

Maicon me falou muito de sua mãe, Maria do Socorro, um mulher simples, que trabalha na casa de uma família há muitos anos. Nas horas de folga, leu algumas cartas que ela o escreveu. Cartas muito simples, amorosas, de uma mulher modesta, orgulhosa de ter um filho estudando medicina em Cuba.

Passei vários dias no Rio, voltei ao Recife, comecei a trabalhar, e a carta comigo. Liguei duas vezes, marquei o encontro, mas ele só aconteceu na segunda-feira. Ela não queria que eu passasse e deixasse a carta. Queria me ver. Queria sentir alguma fagulha da presença do filho.

Cheguei lá pouco depois das oito, apressado para uma nova viagem para o Sertão. Ela tinha saído para resolver algo. Uma moça foi chamá-la.

Daqui a pouco, vem a dona Socorro, caminhando apressada, com um sorriso imenso, contido, que tomava conta do corpo e da alma. Me reconheceu de longe, por causa da barba, que o filho tinha avisado.

Então aconteceu isso que é o mistério, o sagrado. Dona Socorro me deu um abraço cálido, terno, e ficou muda, sorrindo e chorando.

"Estou tão feliz, que não sei nem o que fazer".

Pausa para respiração. Entreguei a carta, que era o de menos. Ela queria saber do filho. Falei das nossas andanças, de como ele está bem, fazendo seu curso de Medicina, e que ficamos muito amigos.

"Ele sempre foi assim, desenrolado", foi o máximo que conseguiu dizer.

Para ela, era como se o filho estivesse ali. Não, não, era como se a presença dele, as lembranças, tivessem chegado de repente, com um amigo novo, recém-chegado de uma terra tão distante.

Falei mais algumas coisas, mas tudo era desnecessário. Por alguns instantes, o simples fato de entregar uma carta, de um filho que mora a milhares de quilômetros do Recife, representava o reencontro de Socorro com seu Maicon.

Dei mais um abraço, disse que precisava viajar, mas voltaria, para contar os detalhes.

"Estou tão feliz, tão feliz", prosseguiu.

Saí caminhando devagar.

Maicon, sua mãe é uma mulher simples, tem olhos suaves e muito orgulho de você.

Na segunda-feira, ela era uma das mulheres mais felizes do Recife.

Não, Maicon, estou mentindo. Era a mulher mais feliz do Recife. Uma felicidade que vai se espalhar por vários dias.

Estava tão feliz, que não sabia nem o que fazer.

14 comentários:

Anônimo disse...

"Só digo que não existe emoção comparável à de ter filhos...quem quiser experimentar a emoção de assumir responsabilidade total por outro ser humano,e aprender a amar e se dedicar no grau mais alto,precisa ter filhos."Do livro,A ÚLTIMA GRANDE LIÇÃO.Bjs.Tati.

Anônimo disse...

Prof. Samarone, senti-me banhado por uma imensa alegria e sinto-me cumplice desse belo e terno amor de mãe. que nós que vivemos longe sabemos o gosto de um abraço que traz lembranças e os melhores sentimentos guardados...

Marcelo Negrinho
sala de leitura de cachoeira do taépe

Anônimo disse...

Samarone, voce eh um cara arretado! Sou rubro-negro e vi esse teu blog no blog do santa cruz. Parabens amigo.

Anônimo disse...

Amigo, vc tem o dom de tocar a alma com suas palavras. Que Deus te abençõe.

Um forte abraço,

André

naire valadares disse...

Amor de mãe é coisa séria, eu que o diga. Emocionou.
Beijo
Naire

Raphinha disse...

Me encanta a forma como você dá a devida grandeza a coisas que podem parecer tão simples.

Bom dia!

Anônimo disse...

Fui lendo e foi me dando uma saudade imensa da minha mãe, que se encontra a 380Km de distância.
Pense numa vontade de chorar que me deu quando terminei de ler.
Sabe, você escreve com a alma.
um abraço

Conceição Cardozo

Anônimo disse...

Absolutamente definitivo!

emocionado, muito

Gustavo.

Beto Efrem disse...

Lindo.

MAICON RICARDO NUNES MARTINS disse...

caracas mano ! obrigado pela emocion de ter noticias me mama. sou muito grato por iso e me esquecerei desta singela homenagem a mim e a minha mae
grande abrazo,
Maicon Nunes Martins
maiconx13@gmail.com

Raphinha disse...

Tava lá pelas bandas do Poço da Panela ontem, lembrei de você.

Anônimo disse...

cruzes sama!!!
enchi os olhos d´água, imaginando a cena, cheia de silêncios.
saudades!
ana luíza

Anônimo disse...

É Samarone, Dona Socorro só pode ser resumida a uma palavra MÃE. Não mãe coruja ou mãe amorosa, não, só MÃE. Não precisa se acrescentar nenhum adjetivo mais. E esse filho dela é um grande apaixonado pela mãe. Ambos se merecem, pela grandeza de ambos. Agradeço em tê-los conhecido. Parabéns a você por ter escrito o que escreveu no blog. Gilson Pereira

Anônimo disse...

Demais!
Fico feliz em ter sido a ponte entre vocês.
Daniel