quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Antologia do Instante

Recife, 11 de agosto de 2005.


Informo aos poucos mas cativos leitores que a primeira edição da “Antologia do Instante” - a coleção das primeiras mil frases, tiradas, comentários e evasivas dos amigos e desconhecidos -, finalmente começou a ser editada. O material supra citado já está nas mãos do design César Maia, que promete um livro bonito, aconchegante e atraente, algo para levar no bolso e ler no metrô, ônibus, na fila do banco – até no banheiro, como tem feito o amigo Iramarai com o meu “Clamor”. Aguardemos o lançamento.

Como a vida é mesmo dinâmica, já estou com outras centenas de frases rabiscadas em pedaços de guardanapos, sobras de papel, pontas de cadernos, folhinhas de bloquinhos, essa interminável soma de papéis que vão fazendo minha diversão. Bem, em primeira mão, faço uma pequena seleção da “Antologia do Instante – volume II”, ainda em fase de gestação. Vamos às novidades, coletadas no sabor do instante, quando a frase foi dita sem muitos filtros, na hora exata em que a tirada foi arremessada, o comentário ferino aconteceu, a confissão escapou do coração, enfim, essas coisas demasiado humanas, mas exatamente naquele instante, eu que sou apaixonado pelo cotidiano.

Um dia, quem sabe, organizarei as frases e trechos de romances e livros que guardo desde 1988, mas só se eu viver muito, porque é muita coisa, e estou ficando, dia após dia, devoto da preguiça e amante da pouca produção, estou até a buscar um padroeiro da lentidão, um santo para me orientar os caminhos para o caminhar mais lento, aceito sugestões, por enquanto vou usando como referência a tartaruga que Déa me deu outro dia, já é um bom começo, desconfio.

“Ofende, mas não magoa”.
(Nana, do Poço da Panela. A frase serve para tudo na vida, creio)

“Estou sem bola e sem chuteira”.
(Duda a Milhão, na esquina de Vital, inconsolável com alguma coisa)

“Quanto mais você bebe, menos você paga”.
(Gordo, da turma aqui do Poço. Lógica de boteco não se explica, certo?)

“Ontem alguém espirrou ao meu lado nas Lojas Americanas e logo me deu uma dor de cabeça”.
(Prof. Davi, explicando como pegou a gripe mais rápida do Brasil)

“Seu Vital, uma saideira e uma cerveja!”.
(Não lembro quem foi, mas que foi um pedido de saideira original, foi!)

“Estou construindo uma piscina lá em casa. Já tenho até o calção de banho!”
(Iramarai, explicando o sonho da “piscina própria”, que nunca vingou)

“Está chuvispingarolando”.
(Jorge Alberto, explicando poeticamente um esboço de chuva)

“Se em terra de cego quem tem olho é rei, imagina quem tem dois olhos!”.
(Inácio, explicando algo que não entendi, mas vale a frase)

“A igreja está tão linda que dá até vontade de casar!”.
(Tânia, ao ver a igrejinha do Poço linda para um casamento)

“Arraes voltou, por que ele não iria voltar?”
(Um amigo, explicando a volta de outro amigo, após uma rápida separação)

“Hoje, agora, é tudo”.
(Seu Vita, dono de bodega e filósofo aqui do Poço da Panela)

“Emoção demais às vezes chega até no cabelo”.
(Eupídio)

“Não diga nada: realize e depois chame para a festa”.
(Sugestão de um amigo, quando lhe falei de um projeto grande)

“A pior coisa de um corno é a revolta. O corno tem que ser forte. Falo isso com 15 anos de experiência”.
(Neno Testão, aqui do Poço)

“Sim, querido, mas eu sou influenciável”.
(Luis Nunes, nosso ex-Diazepan, explicando uma mudança de opinião, creio)

“O álcool dá palavras aos pensamentos”.
(Priscila, uma amiga paulistana)

“Quando beber, não fale!”
(Clarissa, alertando os amigos)

“Ele contraiu o vírus da gaia”.
(seu Vital, se referindo a alguém que foi acometido deste mal)

“Se eu tivesse uma motoca, eu fugia com ela agora”.
(De um amigo, ao ver uma linda moça entrar sozinha em um bar)

“Se eu queria Rivaldo no Sport? Eu queria Rivaldo lá em casa!”.
(Giba, ao ser perguntado se queria Rivaldo jogando no seu clube)

“Ela era elíptica, proclítica ou mesoclítica?”
(Jorge Alberto, perguntando sobre o caráter de uma criatura)

“Palhaço não, profissional da alegria”.
(Ibdem, explicando suas palhaçadas)

“Mas você pode assistir sem solução de continuidade”.
(Prof. Davi, explicando que eu poderia assistir o filme a partir da segunda parte)

“Eu iria responder incontinente”.
(Prof. Davi, o único amigo que fala no cotidiano coisas do tipo “incontinente”, “peremptoriamente” e “solução de continuidade”)

“A gente sempre está em paz quando alguém chega”.
(Andréa Ferraz, uma amiga, ao escutar Cássia Eller cantar “eu estava em paz/quando você chegou”)

“Tem dicionário que não tem tudo. No meu não tem feio”.
(Jamille, de 7 anos, neta de seu Vital)

“Eu sou pessimista, eu sei... mas eu sou otimista”.
(João Valadares, falando sobre seu famoso pessimismo futebolístico)

“Vou pintar minha bicicleta de vermelho e amarelo, as cores da Ferrari: é para ela correr mais”.
(Fernando, de 11 anos, menino aqui do Poço)

“O novo papa derrotou papa-léguas, papa-figo e papangu”.
(De um taxista, falando da eleição do papa Bento XVI)

“Tinha um negócio escrito “help” e eu pensei – esse cara está precisando de ajuda”.
(Numa mesa de bar)

“É uma fantasia que a gente coloca para ir a outra fantasia”.
(De uma amiga, toda enfeitada e maquiada para ir a um casamento)

“Eu quero ter um mausoléu com chaminé por dentro, para quando eu acordar, sair na naturalidade”.
(Não lembro de quem foi)

“Só há uma coisa que me separa de você: o ar entre nós dois”
(de um texto de Clarice Lispector)


Em breve, publicarei as “Antologibas”, as frases de Giba, o rei das frases.

Inté.

11 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog, estava com saudades de seus textos!!! Adorei essas frases...rs, principalmente a do Fernando dizendo que ia pintar a bicicleta de vermelho e amarelo pra ver se corria mais rápido, foi ótima....rsrsrs!!! Quando o livro ficar pronto avise aos leitores, quero um exemplar!!!

Zeca disse...

Ei vamo marca aquela audição , viu??

Ana disse...

Muito bom matar as saudades do Estuário!!
Delícia voltar a ler vc, Samarone!
Bjs!

Anônimo disse...

Sama, conheci uma pessoa (épocas atrás)que tinha uma teoria:nós cearenses não éramos da Terra, mas sim ETs, espalhando-se pelo globo, em pleno complô para tomar o planeta.Quanto a ti (um cearense-pernambucano poçolense), deves ter parte com São Pedro.Ele, certamente, tem seus olheiros, ou melhor, "ouvideiros" e "escrivinheiros" aqui para dar a ele material toda vez que um de nós saltar lá pra cima, porém não pra dar permissão pra entrar ou não no céu, mas sim para dar boas risadas, pois quem "vive no céu", meu querido, deve ter muito senso de humor e de beleza, além de adorar palavras. Estuário é pleno de céu!Beijão! Magna

Anônimo disse...

homen, tu es lindo mesmo!
faz o meu dia comecar bem feliz.
beijos,
fabiana.

Anônimo disse...

Faz tempo que eu esperava uma versão online da antologia. Poderíamos criar uma sessão do "instante" no blog do santinah. Sempre que rolasse uma frase, tome o registro no blog.

Anônimo disse...

Ri muito com as frases! Um barato, Sama! Avisa quando forem ser publicadas, VISSE?
Beijos!

Anônimo disse...

Oi Sama, essas frases são ótimas e que memória para anotar todas elas... Um beijão! Gilmara.

Anônimo disse...

Samarone! Parabéns. Mesmo bom humor, ótimas crônicas. Me faz sentir melhor...
Valeu. Priscila Grahl

Anônimo disse...

Esse negócio de ficar só anotando é muito bom. Falta uma frase do autor da Antologia do Instante. Uma que presenciei, na saída do ginásio da Ilha do Retiro: "Eu prefiria levar uma gaia", de Samarone Lima após uma derrota do Santinha para a coisa. Abraço!

Anônimo disse...

"Preferia", desculpem!