sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Pequeno tratado da grande tabacudice

Recife, 26 de agosto de 2005.


Eu tenho, vocês devem ter, em todo canto do planeta tem – um amigo ou simplesmente um conhecido que é, de fato, um tabacudo. Pode ser de qualquer sexo, idade, profissão, credo, do mais rico ao mais pobre – o tabacudo é uma figura que poderia ser estudada pela sociologia, filosofia, antropologia, endoscopia, fotografia etc.

Mas vamos à explicação que o Dicionário Aurélio nos dá para tabacudo – [de tabaca + udo] Adj.Bras., BA. Pop. Ignorante, bronco, obtuso.

Sinceramente, as últimas vezes que precisei do Aurélio, ele me decepcionou profundamente, e agora repetiu a dose. Outro dia, constatei de forma lamentável que ele não colocou, em suas 1.838 páginas , da edição de 1995 (a que consulto), a palavra “buchuda”. E ainda tem na capa “nova edição revista e ampliada”.

É, só que quem revistou e ampliou a edição, esqueceu de passar pelo Recife para saber o que povo aqui anda falando, desde que o mundo foi criado. Basta você pegar uma pranchetinha daquelas de R$ 1,99 e sair pelo Recife perguntando ao mais desinformado dos seres, à mais inocente criança, ao mais demente dos seres o que é uma “buchuda”, e a resposta será a mesma – “ora, é uma vitória de 6 x 0 no dominó”. Quem nunca levou sua buchuda num domingo à tarde que levante o dedinho!

A mesma coisa se aplica ao tabacudo. Pela minha vasta experiência no reino da tabacudice, a nossa definição aqui em Pernambuco é um pouco diferente da que veio no Aurélio. O tabacudo nosso de cada dia está mais para um sujeito que é uma mistura de engraçadinho que não é engraçado, sabido que não é sabido, conversador que não tem conversa, uma figura que está mais para o babacão mesmo, do que para o sujeito bronco, obtuso, ignorante.

“Que bicho tabacudo”; “Sai pra lá, tabacudo”; “Meu irmão, como é que tu faz uma tabacudice dessas?”, são frases que escutamos no dia-a-dia. Então, como tenho lido muitas coisas de psicanálise, antropologia e sociodrama, comecei a fazer um levantamento sobre a figura histórica do tabacudo, e finalmente estou terminando. O meu Pequeno Tratado da Tabacudice, em sua fase de revisão final definiu o tabacudo da seguinte maneira:

O tabacudo é um sujeito que espera as coisas acontecerem e depois passa muitas horas reclamando dos outros, porque as coisas não saíram como ele queria;

O tabacudo quer agradar todo mundo. Como diz João Valadares, “todo tabacudo é gente boa”;

Quando está apaixonado, o tabacudo vira uma massa gosmenta, incapaz de fazer outra coisa que não seja falar da namorada e telefonar 458 vezes por dia;

O tabacudo não gosta de Carnaval e faz questão de dizer isso para os amigos que pensam no Carnaval o ano inteiro;

O tabacudo pega a conta no boteco e faz o cálculo milimétrico de quanto cada um gastou individualmente, ao invés de somar tudo e dividir por cinco;

O tabacudo faz a maior confusão para bater o pênalty na decisão do campeonato de peladas, e chuta pra fora;

O tabacudo faz questão de ser o laureado da turma;

O tabacudo pendura o diploma em algum lugar da casa;

O tabacudo leva as visitas para verem o diploma pendurado em sua casa;

O tabacudo entende de todos os assuntos e dá pitaco em qualquer contexto;

O tabacudo explica racionalmente o governo Lula e diz que a esquerda acabou;

O tabacudo enche a caixa de email dos amigos com coisas idiotas que julga engraçadíssimas, e se sente o máximo.

Os amigos do tabacudo não reclamam, para não magoar;

Quando entra no elevador, o tabacudo diz “que calor, né?”;

O tabacudo acha que sabe contar piadas;

Os amigos do tabacudo fingem que acham engraçado;

Quando pára de fumar, o tabacudo descobre que cigarro é a pior coisa que existe no mundo;

Quando pára de beber, o tabacudo descobre que a bebida é a desgraça de todos os relacionamentos, crimes e mortes da cidade;

O tabacudo acha lindo dizer para os colegas que trabalhou até as quatro da manhã, que levantou às seis para correr na Jaqueira, e que às oito já estava no batente;

O tabacudo vai ao boteco sempre atrás de mulher e geralmente volta sozinho;


Não deixa de ser tabacudo um sujeito que tem um blog meia boca e escreve sobre os tabacudos.

12 comentários:

Anônimo disse...

E esse povo que deixa comentário...tudo tabacudo!

Anônimo disse...

Ou seja, "de médico e louco..." e TABACUDO todo mundo tem um pouco. Beijos. Magna.

Anônimo disse...

Ia botar um comentário aqui, mas diz o amigo ali em cima que quem comenta é tabacudo/a.

Anônimo disse...

Essa é para todos os meus amigos queridos... Parafraseando Vinícius de Moraes: " ah! se todos os tabacudos do mundo fossem iguais a você"

Anônimo disse...

E ate hj eu não me ofendia qd vc me tascava um "tabacuda".... Rs.
Beijo.

Mariana Mesquita disse...

Ai meu Deus, me reconheci em várias dessas frases... TABACUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUDA!
Beijo.

Anônimo disse...

Tabacudos do mundo, uni-vos! Acho que agora todos nos sentimos um pouco. PH

Anônimo disse...

Isso é q se chama de cultura popular!

Anônimo disse...

Não quero ser tabacuda!!! Beijos, Carolina

Anônimo disse...

muito bom..ainda tô rindo..

Anônimo disse...

Sama, não sei se o resto dos seus leitores teve a mesma impressão do que eu mas ao terminar de ler sua crônica só me veio a cabeça o nome de uma pessoa: Carlos Magnata! parece até que foi escrita em homenagem a ele!!! ahahahahahahah Ps.: Magnata, não me leve a mal, ser tabacudo não é pra qualquer um!

Anônimo disse...

Sou um Homem – e isso me deixa tão feliz !
Bem melhor do que ser mulher safada,
Dessas que engravidam por quase nada
E depois levam a vida por um triz !!!...