domingo, 6 de abril de 2008

Na estrada

Já estou em Salvador, para participar do projeto Lanterninha, uma bela iniciativa envolvendo alunos da escola pública.

A cada viagem, descubro que sou feito de estradas. Me recomponho, me reorganizo, me refaço mesmo é andando pelo mundo. Sou apaixonado pelo processo todo. Chegar à rodoviária, embarcar, ver a cadeira, quem vai ao meu lado. Desta vez, viajei ao lado de um jovem inglês, que não falava português e usava fones de ouvido.

Viajo bem menos de avião, acho as aeromoças muito chatinhas e as cadeiras mais apertadas, além de ser muito longe do chão, o lugar da viagem. Não fosse a criminosa destruição de nossa malha de trens, viveria entre uma estação e outra, com o focinho do lado de fora, sentindo os cheiros do mundo. Chamava-se "Sonho Azul" o trem que fazia a linha Crato-Fortaleza, a viagem mais linda do globo terrestre. Já fiz grandes e inesquecíveis viagens a pé, com meu amigo Iramarai.

Não sei quantos mil quilômetros percorri, cidades que conheci, e nem importa, porque não quero ser do Guiness. Lembro que uma época, em São Paulo, eu chegava ao terminal do Tietê, e escolhia uma cidade, aleatoriamente. Viajava, passava o sábado e domingo, e voltava na segunda. Lembro de viagens maravilhosas por chapadas, com meu amigo de sempre, o Gustavo.

Há pouco tempo, descobri que esta vocação está no sangue, no meu mais remoto. Meu avô fazia o mesmo, era um andarilho por natureza. Morreu no Rio de Janeiro, aos 51 anos, de forma misteriosa.

Meu pai todo ano saía de Imperatriz, no Maranhão, rumo ao nosso torrão natal, o Crato. A viagem no raçudo Fusca era minha alegria anual. Não importava muito chegar, o que eu queria mesmo era ir. Agradeço muito a ele por ter me iniciado nesta aventura de descobrir o Brasil, em suas entranhas.

Outro dia, um amigo falou sobre coisas da felicidade, e como as pessoas querem obcecadamente o final feliz, deixando o caminho de lado, que é onde tudo acontece, inclusive a felicidade.

Com as viagens, aprendo a ir, aberto para as surpresas, impasses, os incômodos. Sei que seria muitíssimo mais triste, se não pudesse ter viajado desde a infância. Viajar me salva.

Fernando Pessoa sugere que nossas dores, sofrimentos, tristezas, sejam tratadas como "incômodos de viagem".

Eu concordo sempre com os poetas, mas não sugiro nada. Só viajo, olho, vivo e escrevo. É minha oração em movimento.

Salvador, domingo de uma chuvinha besta.

7 comentários:

Unknown disse...

olá meu querido,

mais uma coisinha que temos em comum as ???? da vida colegial.
tu és fogo mesmo...faz a gente voltar no tempo e refletir o passado com os novos pensamento. deu pra entender? espero que não. que viagem essa minha hahahah

saudades.

sim...belo texto o do blog...
eu tingida hihih.
tá o "must" a falsa loira do santa.

agora, tirando o blandor e as gracinhas ... a foto tem um significado ímpar.

beijo, boa viagem,

alessandra

Clarissa às claras disse...

Quando for viajar de novo, me leva na mala!!
Tô afim de viajar, também!
Ah e,por favor, diz pra mim como conseguir dinheiro para isso!
auhsuhsuashua
Gostei da história.
Futuramente, serei eu!
Beijos, Sama! =)

popfabi disse...

viajar me salva! mesmo que seja uma viagem assim, mudando a rota pro trabalho, dentro da própria cidade, olhando outras curvas, parando em outros sinais!

Anônimo disse...

também cuto muito as viagens... adoro ir e vim... gostaria de ter tempo para mais... sinto uma inveja saudável das tuas viagens.
um grande e saudoso abraço,
sirley

Anônimo disse...

bom, já que o assunto são as viagens, também estou de partida, me salvando nos passos, na dança da vida. provavelmente enquanto estás lendo estas linhas, meu corpo já não pertence mais ao Recife, pelo menos por enquanto. vou para esse outro mundo que descubro cheia de paixão: amazônia. vou dançar com os índios, amar outras línguas, me cobrir de outras luas e de outros sóis. voltarei...
beijos
justine

Jorge Filó disse...

E ai poeta Samarone. Peguei seu mote de viajar e aproveito para dizer do lançamento do novo CD dos Vates "Quem não viaja, fica!". O show vai rolar dia 10 de abril, nesta quinta próxima quinta, a partir da 20:30h. Se achegue por lá poeta!
Vates e Violas
Dia 10 de abril
Teatro do Parque
As 20:30h

GÊNERO CINEMATOGRÁFICO disse...

Fernando Pessoa sugere que nossas dores, sofrimentos, tristezas, sejam tratadas como "incômodos de viagem"...
tô precisando dum renédio assim.
bjs