Dona Ermira é a mulher mais solidária do mundo. Se receber uma ligação da prima da irmã da tia da vizinha, que não vê há três décadas, informando que a menina está hospitalizada, Dona Ermira organiza a bolsa, bota alguns poucos pertences e se hospeda no hospital, para acompanhar o caso. É uma mulher de 60 anos, meio gordinha, com um eterno sorriso de canto a canto do rosto.
Dona Ermira outro dia recebeu um telefonema. Uma prima tinha morrido, o enterro estava marcado para aquela manhã. Ela ficou triste imediatamente, telefonou para a irmã, Beta, e avisou:
“Temos que ir ao enterro da nossa prima!”.
Na porta do cemitério, encontraram duas pessoas conhecidas. Começou aquela conversa sobre as qualidades da falecida. Daqui a pouco, ela escuta o chamado de um desconhecido.
“O enterro está saindo!”.
“Vamos, Beta”.
As duas foram, naquele passo silencioso, cercado de murmúrios, que marcam qualquer enterro. Antes de ser colocado no túmulo, o caixão ficou um tempo fechado, para as últimas despedidas. Dona Ermira se aproximou, muito triste, chorou um bocado, lembrou da prima de muitos anos atrás. Alisou a tampa do caixão, num gesto de carinho, mas nem olhou direito para o rosto da prima, que não via há muitos anos.
Dona Ermira só estranhava uma coisa. Cada vez que levantava a cabeça, não conseguia encontrar uma pessoa conhecida.
“Ermira, acho que não é aqui não”, sussurrou Beta duas vezes. "Não estou vendo ninguém conhecido"
E tome lágrimas!
Lá pelas tantas, a própria Dona Ermira resolveu tirar a dúvida. Olhou para um senhor grave, de paletó e óculos escuros:
“Aqui é o enterro de quem?”
O homem grave informou o nome de uma pessoa que ela nunca ouvira falar.
“Vixe, Beta, não é aqui não!”, disse Dona Ermira em uma voz mais alta que o necesário, enxugando as lágrimas. Sabe-se que houve um murmúrio geral entre os amigos e parentes da falecida em questão. Quem era aquela intrusa?
As duas olharam ao longe. Do outro lado do cemitério, estava sendo realizado outro enterro. Apressaram o passo.
Ainda deu tempo de ver os parentes jogando areia no caixão da prima. Dona Ermira foi abraçada pela irmã da prima.
"Ermira, pensei que você não vinha!".
Ela ficou sem jeito em dizer que estava chorando suas pitangas no enterro errado.
Ao lado, Dona Beta não conseguia segurar o riso.
Essa minha mãe é fogo!
4 comentários:
Hahahahaa Essa história contada ao vivo também foi muito engraçada, Sama! Um abraço
Grande Alma, Ermira e seus olhos de mundo...
Beijo a ela Sama,
Gustavo
Sama, conta mais. Dá pra fazer um blog só de relatos da mãe querida. Abração do mano PH
Samarone, descobri teu blog, hoje, adorei a entrevista no Jornal e na TV Cultura.Inácio, nunca me falou do teu blog.Deixa ele voltar das férias...forçasdas , é claro!Adorei as historias, eu também conheço uma dona Ermira, ela faz parte do meu imaginário de menina lá para as bandas de "Macau-RN", na verdade a minha se chama "Dona Dalva".Parabéns! e um beijão (intimidade é só pq adorei as histórias, essa tá de internet possibilita, isso também...rrsrsrsrsr)
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