sexta-feira, 14 de julho de 2006

De volta pra casa

Ah, estou de volta. Depois de uma verdadeira temporada no Cabo de Santo Agostinho, acompanhando a tia-avó que teve um princípio de AVC, chego novamente à minha pátria espiritual o Poço da Panela. A tia se recuperou bem, de uma forma surpreendente. Na segunda-feira, sentamos e começamos a conversar. Ela me contou a história de sua vida, numa cronologia impressionante.

"Nasci para ser professora. É a minha vocação, eu sempre soube, desde o início", disse ela, com os olhos brilhando. Acho lindo isso, saber o que quer e ir atrás do ofício, realizar coisas, viabilizar a vida na generosidade. Ela fez isso como ninguém.

No Cabo, estava tudo ótimo, mas sofri muito com a falta do meu bar predileto. Lamento, amigos, mas não encontrei nenhuma filial da mercearia de Seu Vital por lá. Nenhum lugar que tenha queijo com mortadela regada ao molho inglês, ou um queijo acebolado no capricho, com pão na serra. Nenhum boteco que tenha aquele atendimento brusco, que parece irritado e brabo, mas é 99% encenação. Não encontrei contadores de piada cinco estrelas, como Walter.

Não resisti. Vou ficar acompanhando a tia com idas e vindas a cada dois dias. Agora mesmo, tardinha da sexta-feira, batuco esta crônica de improviso numa lan-house, e plenejo tomar uma Brahma, em pleno crepúsculo. São as pequenas redenções, as necessárias redenções.

Muita gente acha que exagero no bucolismo, mas estarão lá, daqui a pouco, o velho Tony, Garotinho, Luiz Pezão Maúcha, Eduardo, Duda a Milhão, Naná, Lucidélia, Walter etc. Depois chega Lulu, querendo brincar e mostrar alguma sandália nova, no auge dos três anos.

Minha casa tem um primeiro andar, e de lá, posso ver o bar de Seu Vital. Sim, amigos, tenho uma casa com vista para o bar. Quando estou nos momentos mais tristes, quando as coisas saem erradas, costumo dizer o que o poeta disse em tempos remotos:

"Vou me embora para Vital. Lá, sou amigo dos reis".

Vital. O único bar do Brasil frequentado por três reis (Walter, Naná e Davi). O único com troncos na calçada, servindo de cadeira e mesa. O único que registra as buchudas aos domingos, motivo de discussões acaloradas. O único bar do Brasil que recebe minhas correspondências, quando estou viajando ou perambulando.

Tia está sã e salva, já posso ficar mais relaxado. Eu agora preciso me cuidar. Ontem, dei uma faxinada completa, varri tudo, passei o pano, cheguei ao final do dia exausto.

Mas foi aquele cansaço bom, de quem está voltando para casa. É bom ter um lugar para chegar, um lugar que tenha nosso cheiro, nossos gostos, os livros espalhados de um certo jeito, o tapete naquele lugar, uma lâmpada queimada por ali, para a gente pensar "preciso comprar uma lâmpada para minha casa".

E domingo, ninguém me segura. Vou ser aquele zagueiro raçudo de sempre, na pelada dos Caducos. Se bobearem, darei umas subidinhas para o ataque, em busca de um gol-surpresa, depois de três semanas desfalcando a nossa defesa.

Vou dedicar à tia, claro.


ps. Gustavo, encontei o Heidegger, naquele formato que conheces bem. Na leveza...

6 comentários:

Daniela Peregrino e Fátima Borges disse...
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Daniela Peregrino e Fátima Borges disse...

Samarone,

Leio teu blog há algum tempo e acho linda as tuas palavras. Ainda bem que temos no mundo pessoas sensíveis como você.

Ana disse...

Sempre tão bom voltar pra casa... Fico feliz por vc e por sua tia!

Tava sentindo saudades das histórias do Seu Vital!

Anônimo disse...

oi, Samarone!
Acredito que o Poco da Panela muito se alegrou com a tua volta.Nós, também, teus leitores, muito nos alegramos quando assim, feliz, estás.
um abraco,
Claudia

Anônimo disse...

Oi Sama..
que bom que sua tia se recuperou!!
Fico feliz por ela e por vc poder retornar a seu refúgio maravilhoso, cercado de amigos e pessoas carinhosas.
Boa sorte no jogo de Domingo. Tomara que saia um gol seu...
Abraços!

Anônimo disse...

parabéns