quinta-feira, 28 de setembro de 2006

O não-lançamento de Estuário

Estava tudo certo. As revisões foram feitas. Crônicas meia-boca foram retiradas, as novas, do Blog, foram adicionadas. Mexi na orelha do livro, fiz algumas correções, e a Editora Bagaço anunciou solenemente a edição de 300 exemplares de Estuário: crônicas do Recife, deste que vos fala. Melhor que isso: com aquele delicioso “Segunda Edição”, na capa.

"Quarta-feira, dia 27 de setembro, o livro está pronto, pode vir buscar, me avisaram. Então comecei os preparativos.

Pessoas queridissimas ajudaram na divulgação. Saí até nas colunas sociais. Dona Luzilá Gonçalves, escritora de mão cheia, teceu alguns elogios ao livro, em sua coluna do Diário de Pernambuco, da terça-feira. Meu Deus, que alegria! Dêem os descontos, que ela é muito amiga minha.


Ricardo Mello incluiu o lançamento na Semana de Comunicação da Católica. Falei com Seu Vital que o pós-lançamento seria em sua venda, com a presença de amigos os mais diversos e desconhecidos por conhecer. Ele reforçou a cerveja e o vinho Carreteiro, produto bastante consumido no Poço da Panela. Separei uma camisa boa e uma calça engomada.

Na metade da tarde, liguei para a editora, para saber onde pegar as caixas com os 300 exemplares. A Inês me disse, com uma voz de choro:


“Todos os fotolitos do livro queimaram ontem. Não temos livro”.


Me deu uma fraqueza no espirito e uma vontade de chorar, mas isso durou cinco segundos, porque tenho lido muito o Guimaraes Rosa, e ele diz que o que a vida quer da gente e coragem.


Fui à Bagaço com dois quentes e um fervendo, para arranjar arruaça. Como é que me deixam sem o livro no dia do lançamento, isso é uma irresponsabilidade, essas coisas do sangue fervendo.


Mas encontri a Inês, ela estava mais triste que eu, chateada mesmo, a zanga passou na hora, eu quase tive que ampará-la um pouco, e comecei a pensar que besteira essa, o mundo não se acaba porque um livro não ficou pronto. No entardecer, tomei banho e passei xampu (eu nunca sei como se escreve shampoo direito). O creme Viscaya, comprado pela dona Ermira, que vem a ser minha mae, tinha acabado. Me virei com outro. Escovei os dentes igualzinho aos caras das propagandas. Estava prontinho para o não-lançamento oficial.


Às 17h30, estava na Católica, no famoso “Café com o Quê?” (sinceramente, esse nome de café não foi uma escolha muito feliz), ao lado do senhor Ricardo Mello, que já sabia da novidade e ficou deveras abalado. Levei o único exemplar sobrevivente da primeira edição, pela Livro Rápido. Levei para mostrar que não estava mentindo, que o livro existiu um dia, e, sendo assim, poderia voltar a existir.


Surgiu a idéia de passarmos uma lista com os interessados em comprar Estuário, e logo consegui vender uns 15 livros imaginários. Algumas alunas do quinto período fizeram uma entrevista para um trabalho. Ganhei um pedaço bom de tapioca, tomei um cappuccino grande e depois peguei um ônibus para o Poço. Era a imagem clássica do autor sem sua obra. Eu não estava desolado nem triste. No ônibus, comecei foi a achar graça de tudo. Esse negócio de levar as coisas a sério demais envelhece a gente, cansa, maltrata o espírito.


Cheguei em Seu Vital às 19h12 e encontrei Tio Jadi ao lado de Boy. Tio Jadi já estava para lá de qualquer fronteira. Se escorava naquele santo que ajuda a aprumar os bêbados. Apertou minha mão por uns quinze minutos. Perguntei o que ele tinha bebido:


“Um vinhozinho”.


Tradução: algumas garrafas de Carreteiro.


Logo, ele começou a cantar Lupicínio Rodrigues, e a noite ficou mais mansa.


“Ela disse-em assim, tenha pena de mim, vá embora...”


Depois foi chegando a malandragem. Naná, Rodrigo Lobo, Walter Barba, João Magro Valadares, Serjão, Josildo Sá, fora os habitués naturais de Vital. Informo que a turma do bairro estava mais preocupada mesmo era com o dominó. Negócio de livro...


“Cadê o livro”, perguntava cada um que chegava.


“Os fotolitos queimaram”, eu explicava.


Ninguém acreditava. João disse que foi golpe publicitário meu. Alguém disse que não tenho jeito. Passei a lista, pedi que colocassem email, que eu avisaria sobre a chegada do difícil Estuário.


A sorte era que a cerveja estava geladinha e a mesa foi ficando cheia de amigos. Conversa boa, numa quarta-feira à noite. Papo manso, alegre. Consegui vender um exemplar de “Zé”, e foi uma festa. Serjão informou que está me faltando é organização.


“Você só poderia divulgar quando o livro estivesse pronto”, disse. Só faltou me chamar de Zé Mané.


Lá pelas tantas, a Débora Suassuna me levou um livro de presente, com uma dedicatória bacana, e fiquei sem graça de não ter nada para dar em troca. A Alessandra trouxe um livro de poemas de sua mãe, e fiquei encantado com o nome da poeta: Musa. Está aqui, comigo.


Como é o padrão básico de Seu Vital, no melhor da festa acabou a cerveja. Acabou não, começou a sair mais quente que leite fervido. Ele tem essa mania estranha: quando está acabando a cerveja, ele joga duas grades quentes em cima das geladas. Aí, nem mel nem cabaça.


Pagamos a conta e olhei na listagem Deu para vender, imaginariamente, 53 livros.


Quarta-feira que vem, recebo finalmente os 300 livros, se os fotolitos não voltarem a pegar fogo. Vou falar com o Serjão para ele me ajudar a organizar nas vendas. Serjão, meus amigos, com aquela voz de tenor, é capaz de vender uma cadeira de rodas para um maratonista.


Aguardemos.


Nota: Recebi a maravilhosa notícia que a Naire Valadares está bem, depois da cirurgia. Disse seu filho que ela recebeu as informações sobre a operação, como seria feita, a anestesia, aquela coisa toda.

Ao final da explicação, ela só fez uma pergunta:

“Sim, doutor, mas eu quero saber mesmo é se eu vou poder votar no domingo”.

Ah, essas pessoas guerreiras me enchem de esperança e beleza.

Força, Naire, que estamos contigo!


14 comentários:

Anônimo disse...

Sama
Boa sorte na 2a(re)reedição. Quero um desses.Me coloca na tua lista dos compradores virtuais, que serão reais quando o livro (re)sair do forno.
O livro não saiu, mas a farra, sim. Isso é que foi bom, né?
Um abraço

betita disse...

Parece a mãe que pariu e voltou para casa sem o filho.
Felizmente, nesse caso, a cerveja foi companheira, pois você não precisa amamentar.
Espero que vender imaginariamente não vire moda, pois outro dia um cara queria me vender um trabalho que não existia, o que não é o seu caso, mas enfim, vou “obrigar” as pessoas que foram comigo a comprar o livro real.
Bom te ver.
Cheirinhos.
Roberta Valentim

Anônimo disse...

Sama, vejamos o lado bom dessa história, não pude ir ao lançamento, agora poderei...há males que vem para o bem, isso é verdade, não acredito no acaso. Tem uma frase que escutei faz um tempo "Não leve a vida tão a sério, afinal de contas, você não vai sair vivo dela mesmo"...um abraço.

Anônimo disse...

o livro de poesias que lhe presentiei, foi dedicado pela minha mãe mas, a autora faleceu há 35 anos atrás (era a tia de minha mãe) e só agora minha mãe conseguiu, juntamente com a academia vitoriense de letras, lançar esse livro.
moral da história: se esperamos 35 anos pra ver publicada e em circulação um bom livro de poesias, de uma grande propagadora do saber: Corina de Holanda; pq não podemos esperar mais uma semaninha pra sua 2ª Edição.
ah um detalhe, geraldo e eu estamos a espera desse livro há, pelo menos, um ano. e que, mais uma vez, fomos ao lançamento de mais uma obra sua, sem que esta estivesse presente.

beijo grande

Alessandra

Anônimo disse...

força querido barba. de fato só guimarães num momento desses.
passo mais um aniversário sem ti.
beijos

Anônimo disse...

Samarone,
Sou de São Paulo, leitor e admirador de seus escritos.
Como faço para comprar o "Estuário"?
Abraço,
Harif Miguel.

Anônimo disse...

não se vou estar em um lançamento, mas espero comprar o livro!

Anônimo disse...

Samarone,
Eu quero comprar dois exemplares.

Conceição Cardozo

Anônimo disse...

Samarone, olá!
Puxa, eu gostaria ter o teu livro.Como posso comprá-lo?Moro na Alemanha.
Abracos!
Claudia

Anônimo disse...

olá meu lindo, tudo bom?

bem... esse blog é bem badalado ein =)

moço, veja só... tá certo que foi um "anti-lançamento"... e que algumas alunas do 5º período ficaram te enxendo o saco, coisa e tal...

mas no fim das contas, foi legal...
tapiocas gostosas e a venda de livros a partir de um "mostruário".

e no fim eu fiquei feliz. alguém riu de uma piada cretina minha (eu nem lembro qual foi).. e tiramos fotos legais. =)

só li o post até a parte que você saiu da católica.
já tem lugar para o relançamento?
um beijo.
fica bem.

e desculpa os enximentos de saco (afinal, eu sou uma das meninas do 5º período.. hehehehhehehehehhee)
não falo isso por mal viu? to apenas brincando.

então, novamente, beijos e fica bem!
www.diariodarafa.weblogger.com.br

Anônimo disse...

esse blog, leia-se este blog

confesso que fiquei com preguiça de ir ao dicionário ver se é "encher" ou "enxer"

acho que é a primeira opção... apesar de eu ter escrito errado.

perdoe-me!

ah! e perdoe pelo post tão sem nexo.´
=*

Pedro Macedo disse...

Sama, eu moro em Oróz... sedex entrega por essas bandas?

Anônimo disse...

Sama,

sedex para BH tb. Põe meu nome na lista dos compradores. Abração do mano PH

Samarone Lima disse...

A todos os interessados na compar de Estuário, por favor me mandem um email para: samalima@gmail.com
obrigado pela atenção e um abraço,
samarone