sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Naná Vasconcelos: quando a chatice se institucionaliza

Amigos, fiz um trabalho e tanto. Depois de prometer ficar cinco dias sem escrever, para me dedicar à vadiagem do Carnaval do Recife, fui atingido por um surto psicótico da maior intensidade: resolvi ver de perto a abertura oficial da nossa grande festa. Pior que isso: resolvi beber pouco, durante o dia, para estar lúcido e escrever sobre a festa. Coisa mesmo de quem não tem o que fazer.

Foram horas de expecataiva, 4.500 tambores de maracatu, gente pra dedéu no Bairro do Recife, e depois de uma longa espera, só posso dizer que o Naná Vasconcelos está virando o nosso Carlinhos Browm. Fica por ali, se torna o rei da cocada, caminhando para a chatice, e todo mundo acha lindo, porque é o culturalmente correto, uma derivação do politicamente correto.

Sei que vai vir gente com aquele papo de resgate da cultura, aquela conversa da importância dos valores da cultura afro, mas o Naná Vasconcelos, a cada 10 segunsos só fazia gritar "Maracatu", e todo mundo respondia "Maracatu", e 569 batuqueiros entravam solando. É lindo meia hora, quarenta minutos, mas cacete, a noite inteira é para fazer a onça beber no tronco do juremá.

Teve uma hora que eu só pensavam em uma coisa, de forma obsessiva, doentia, que era o show da Maria Bethânia. Comprava uma cerveja, pensava nela. Olhava para uma moça bonita, pensava nela. Escutava pela trigésima vez o Naná Vasconcelos dizer "Maracatu", e pensava nela. Sim, a Maria Bethânia iria me redimir. Uma baiana, me salvando na abertura do Carnaval do Recife.

Justamente na hora em que saí para comer um sanduba, o velho sanduba do Carnaval, de procedência duvidosa, a velha baiana entrou. Engoli um cachorro quente em 27 segundos e meio e vim correndo. Ela cantou três músicas acompanhada por quem?

Pelos batuques do Naná Vasconcelos. Aquelas músicas de Iansãn, Oxalá, Baobá, típicas do Recife.

Depois ela saiu e entrou uma orquestra de frevo, que ficou de prontidão. Naná Vasconcelos:

"Maracatu!"

Cacete, eu já estava ficando puto com aquele negócio, apesar de gostar relativamente de Maracatu, coisa de vinte a cinco minutos por semana.

Tome maracatu no quengo. Mais duzentas alfaias por bairro. Lá pelas tantas, volta a Maria Bethânia. Cantou o Frevo do Recife Número 1, do Antônio Maria. Cantou meia-boca, mais lento que o necessário, lendo a letra e esquecendo partes, mas o meu lirismo engoliu tudo. Pelo menos as alfaias estavam quietas um pouco.

"Ai, ai, saudade, saudade tão grande
saudades que eu sinto do Clube das Pás do Vassouras..."

Terminou e zupt! ela foi embora.

Naná Vasconcelos voltou rasgando:

"Maracatu!"

Nâo deixaram nem a gente pedir bis, porque quem vai pedir bis com 3458 tambores tocando?

De formas que se a abertura do Carnaval do Recife de 2008 for com Naná Vasconcelos e suas 3.888 alfaias, ficarei lá pelo Cabo mesmo.

O bar do Amaro, mesmo com aquele charque meio gordo, é mais interessante.

13 comentários:

Anônimo disse...

e eu que vi 30s no jornal nacional e não vi naná gritando maracatu nenhuma vez, achei foi lindo.

adorei o texto.

beijos

Pensamento Poema disse...

maracatu pra tu, jacaré com cara de tatu... morri de rir com essa descrição... foi vc quem abriu o meu carnaval de risos... Tem notícias daquela moça do ônibus?

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Parece que virou tabu não gostarmos de algo que foi oficializado como "tudo de bom".
Putz, esses ensaios de maracatus pra turista ver são um pé no saco, e MAIS AINDA com o Naná à frente.

O cara arrumou essa teta do governo e não quer mais largar o osso... todo ano é a mesma coisa...

Anônimo disse...

putz, tirasse a minha da boca sama. venho reclamando dessa estória já faz tempo. além dessa mesmice, inventaram de trazer maria betânia, nada contra ela, mas "cada macaco no seu galho".
o cd em homenagem ao frevo, é outro chute no ovo. meu ouvido não gosta de ouvir ney matogrosso, maria rita, entre outros, cantando frevo...
e o hit do momento é: "ei joão paulo aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí.."

Anônimo disse...

Putz...Assisti um vídeo na Uol do jornalista Marcelo Tas gravando carnaval do Recife 2007. Quem também apareceu no vídeo? Naná Vasconcelos!!!! E "regendo" os tambores do maracatu. Tas fez a pergunta derradeira a Naná que respondeu com a cara (não fala que eu não tô nem aí): "Como você faz para se comunicar com eles?". Naná: "Eu olho no olhos deles." Tas riu e Naná junto com ele.
Ou seja...me engana que eu gosto.kkkkkk - NO OLHO REGER UMA ORQUESTRA!!!!
Vcs podem ver no site: http://noticias.uol.com.br/uolnews/cultura/2007/02/17/ult2513u148.jhtm

Anônimo disse...

sama e todos os leitores deste blog tão delicioso,

sim, pode até ter virado clichê, mas tb podemos pensar que a tradição só vira tradição quando os movimentos e sentimentos são repetidos várias vezes. Tradição, coisa que nós brasileiros adoramos apagar da memória, também se faz quando uma energia muito forte paira no ar naquele momento, naquele dia, por aquela gente.
Difícil mesmo é perceber que depois que a coisa acontece várias vezes, deixamos de acreditar na sua importância. Nesse caso, falo da importância religiosa. Naná foi um abre-alas para a crença afro-brasileira, sempre tão recriminada, chegar à frente da maior festa popular do estado. Acredito que são energias emanadas necessárias (para quem está aberto a recebê-las, claro!).
Naná é mestre e mestre rege tradição. Mestres sempre serão mestres no nosso caderninho de sabedorias aprendidas, mesmo quando achamos que eles não têm mais nada a nos ensinar.
Um viva aos mestres que brilharam e apagaram. As estrelas são assim.

cheiro,

aline

Tiago Nobel disse...

O melhor (ou pior, não sei) é que quando alguma coisa estiver enchendo teu saco, tu só vai "enxergar" Naná, o vasconcelos gritando:

Maracatu!

kkk!

Abração!

Inácio Franca/Samarone Lima disse...

Sama,

nunca fui pra abertura do carnaval com 3869 alfaias. E dou por visto e escutado.

Também é risível ver os branquinhos de classe média, com dois anos de curso de percussão que lhes garantem doses milenares de cultura geral, na Noite dos Tambores Silenciosos em seus tradicionalíssimos maracatu-nação fundados em 2001. Num deles, Leão da Campina creio, o cantor era galego e berrava coisas do tipo "todo mundo com a mãozinha pra cima" ou "vamos soltar essa energias, gente". Era a Ivete Sangalo do pólo afro.

Os maracatus centenários (Estrela Brilhante, por exemplo), fazem uma espetáculo decente, coisa de gente honrada mesmo.

Anônimo disse...

O que há em comum na maioria dos movimentos culturais aqui do nosso estado é uma certa desunião entre os mesmos, desta forma, é difícil vc ver músicos se dando bem (os grupos), grupos de dança...acho massa esta junção de várias nações de maracatu trabalhando juntas, não só naqulele momento,mas, em vários encontros de preparação. Quem conseguiu isto foi Naná, o cara merece, não só por isto, nosso respeito. Repensar a abertura para sempre torná-la melhor acho totalmente válido, não só para abertura,mas todo carnaval. Uma boa dica para quem gosta de frevo é o cd de J. Mickils, tá massa.

Anônimo disse...

O Maracatu estava belíssimo!
Mas infelizmente o show de Maria Betania foi, na minha opinião, um verdadeiro fracasso.
Esqueceram de colocar microfones descentes pra que ela cantasse. Não se ouvia nada. Ela lá naquele delírio, acompanhada pelos tambores e eu, euzinha, desejando ouvir um pouquinho de sua voz....
Meu Deus, fique frustrada!
Depois ela voltou, e fez uma outra participação, dessa vez com um microfone melhorado! Mas veio outra frustração... ela cantando lendo a letra!!
Uma das maiores interpretes brasileiras... lendo a música!
Pra mim foi o fim!

Anônimo disse...

Como vc Sama, gosto de maracatu, mas não de overdose... e, só lembrando, Naná gritava: "TÚ MARACÁ" e o povo respondia "TÚ MARACATU".
Também fiquei a espera de Maria Bethânia e quando ela entrou em palco, que começou a cantar, eu achava que aquilo era apenas a preparação para o Show de frevo, o som perssímo, Bethânia fora do ritmo do frevo canção de Antônio Maria (Os críticos vão me trucidar pela ousadia), e... Bem e mais nada!
Foi melhor o show de Nóbrega!
Um Abraço!

Anônimo disse...

Eu me rendo em partes, mas antes Naná que Timbalada. Naná é chato até geneticamente, com aqueles olhos caídos, não sei se de nascensa. Adorei o texto e prefiro bem mais Erasto Vasconcelos(irmão de Naná).
Naná uma vez tava gravando uma intrevista pra televisão na praia... ele entrou no mar e batucou na àgua "que gênio!", disseram, pois meu primo de cinco anos fez o mesmo e minha outra prima de 8 brigou com ele porque estava espirrando àgua nela.

Cláudio Machado disse...

Samarone,

Manda umas 30 alfaias dessas para Brasília que ficarei mais feliz. Por falar nisso, a orquestra de frevo da Bomba do Hemetério fez bonito por aqui...