Ah, o recifense, esse eterno apaixonado pelo Carnaval.... Olhe para o lado, veja se alguém do seu trabalho, de sua família, da escola, não tem um bloco, uma troça. Alguém no Recife sempre está vinculado afetivamente a algum bloco, troça, algo que se movimenta, agrega, reúne, imortaliza, antes e depois da grande festa.
Aquele senhor muito sério, de cara dura, enigmático, antipático para uns, um mistério, para outros, poderá ser visto em alguma rua transversal, de algum bairro longínquo, carregando um estandarte a meio pau e dizendo que este ano ninguém segura o rojão da turma dele. Ele estará com os óculos devidamente embaçados pela neblina do àlcool, mas ninguém vai comentar que aquele é o homem sério da Compesa, porque ele estará protegido pela turma do "Bloco do Cachorro Manso", ou "Não sai do canto", ou nomes que a criatividade humana permite.
Quem não fundou um bloco ou troça, um dia vai fundar. Quem não ajudou a criar uma letra para ser cantada naquele dia do Carnaval, ainda vai criar. Em algum bar do Recife sempre haverá alguém com aquele peito estufado, olhos vazando luz, e um comentário:
"Ajudei a compor o hino do Sobe e Desce, do Alto Santa Isabel", em abril de 1975.
Bloco, troça, essa paixão tipicamente recifense. Uma paixão que envolve rifas, os famosos bingos de janeiro, confecção de camisas, o acerto com a orquestra do ano, a feijoada do dia, o pedido de patrocínio em ofícios meia-boca para Pitú e Prefeitura.
Bloco e troça, paixão que gera discussões acaloradas sobre o percurso, a falta de organização, mas cá entre nós, triste da troça que ganha diretoria.
"Meu bloco sai no sábado, na frente do bar de fulano, na Várzea", diz um camarada em um boteco.
Subitamente, ele tem algo que é seu. Pode não ter nada, mas tem algo. O seu bloco.
"Minha troça esse ano não está fraca não, visse?", diz outro, já renovado de algum fracasso recente. Se a sua troça não está fraca, como a vida vai ficar mais ou menos?
E no fundo, o que gera a paixão pelo bloco ou troça é justamente isso. Algo que se compartilha com amigos, que se perpetua nos bairros, nos lugares de trabalho, que dá uma volta no quarteirão, e na volta, já estão todos bicados. Bem diferente das confraternizações de dezembro, os blocos confraternizam sem as barreiras das mesas e o inusitado do amigo secreto. No Carnaval, o chefe do setor pode ser recebido com um bom abraço do contínuo, com o breve aviso:
"Já aprendesse a dançar frevo?"
A partilha da alegria, a certeza de que com muito pouco se faz uma festa. Uma bermuda, a camisa da troça, um estandarte, uma orquestra. Não é preciso jurados. Ninguém se apresenta para outros olhares, os legitimadores. Ninguém quer saber se tirou dez, em nenhum quesito. Todo bloco ou troça que consegue sair, mais um ano, apesar dos pesares, tira sempre dez. É apenas aquele porre de alegria, as ventas soltando fogo, quem achar bonito, que ache, quem não achar, problema seu.
É isso, talvez. Em cada bloco ou troço, tem um pedacinho quase invisível de cada um. É a beleza e a grandeza das coisas pequenas.
E cada um deles é um pedacinho precioso do belo Carnaval do Recife, que vai chegando como aquela grande onda, mas por enquanto só vemos e sentimos as marolas.
ps.Como não sou de ferro, outro dia ajudei a fundar a "Troça Carnavalesca Mista Os Barba", que sai da frente da mercearia de Seu Vital, no Poço da Panela, há seis anos. Esse ano, estamos mais esculhambados e atrasados que nunca, o que é uma virtude, para qualquer troça que se preze.
11 comentários:
Quem ainda não conhece, procure a "Orquestra Popular da Bomba do Hemetério" MARAVILHOSA. Ontem foi o lançamento do cd deles no teatro Santa Izabel, noite de pura magia e teatro lotado. Eles farão a abertura do carnaval dia 16 juntamente com Naná Vasconcelos, Claudionor Germano e Maria Betânia. Maestro Forró e companhia são na tual cena pernambucana uma das melhores novidades.
Quem ainda não conhece, procure a "Orquestra Popular da Bomba do Hemetério" MARAVILHOSA. Ontem foi o lançamento do cd deles no teatro Santa Izabel, noite de pura magia e teatro lotado. Eles farão a abertura do carnaval dia 16 juntamente com Naná Vasconcelos, Claudionor Germano e Maria Betânia. Maestro Forró e companhia são na atual cena pernambucana uma das melhores novidades.
Eita que até o Carnaval, aqui, vira poesia.
Capilé, e nossa cerveja em Casa Amarela?
Conheço a Orquestra da Bomba. É uma maravilha.
inté,
sama
Sama, a danada tá gelando lá em Djalma...rsss, vamos marcar sim, deixa o frevo rolar...abração.
caí de paraquedas nesse blog pra ver um texto lindo desses assim de graça?
internet tem isso.
tem bom,
tem ruim,
tem mais ou menos
e tem o bom demais!
parabéns.
Samarone,
Eu também tenho uma troça, que sobe e desce todas as ladeiras de Olinda. Não tem diretoria para não ter dissidência. E o melhor é que a orquestra da nossa troça são aquelas orquestras da prefeita Luciana que sobe e desce todas as ladeiras da velha Marim dos Caetés. Só um detalhe todos os anos perdemos o
lindo estandarte, bordado pela nossa (carnavalesca) Marta Agra, sempre na primeira subida. Não tem coisa melhor.
Viva o carnaval!
Conceição
Sama, meu velho, depois dessa só me resta perguntar se vc sabe de algum quartinho pra alugar. Esse carnaval vai ser no Recife! Que dia sai Os Barba?!
grande abraço,
Fabão
ps.: cê precisava ter visto a festa de Yemanjá...
1- perdesse os Amantes de Glória. O maior bloco de pessoas vestidas de verde em homenagem a Glória do MUUUUUUUNDO.
2- Favor dar o serviço dos Barba.
Sama, vi ouro dia o panfleto da festa de um bloco novo (eu, pelo menos, não conhecia), que vai fazer uma festa por esses dias. Criatividade pura: é o "Bloco do Nada". O estandarte é assim, nada sobre um fundo branco. E a galera já vai estrear botando pra lascar: antes da prévia vai ter um debate com o tema "O nada no cotidiano", já pensaste ?
Wannessa Guilherme diz...
Pode alguém ter 30 anos que nasceu no sábado de Zé Pereira, vai fazer 31 na quarta-feira de Cinzas e nunca ter pulado um Carnaval? Pense!!!
Sou Eu. Buáááá..snif,snif
Mas um dia quem sabe, irei subir as ladeiras de Olinda dançando e frevando.
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