sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Encontros e reencontros no Sertão de Pernambuco



Paulo Henrique, Janimeire e Jordana, na frente de casa, na Chapada do Araripe.

Há um mês, fiz uma travessia a pé do Exu para o Crato, com o meu amigo Iramarai Vilela. No meio do caminho, fomos acolhidos por Janimeire, seu marido Paulo Henrique e a amorosa filha Jordana. Janimeire estava grávida de cinco meses. Foi um encontro simples, desses que o Sertão permite, que os corações abertos proporcionam. Dormimos em redes numa pequena igrejinha azul e nunca foi tão bom estar no mundo.

As coisas da vida. Durante este período, me envolvi num projeto batizado de "Mãe Coruja", desenvolvido pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. Eu e Iramarai, novamente, fazendo outros percursos. Semana passada, viemos novamente ao Sertão, para lançar o programa, uma das coisas mais belas que vi, nos últimos anos. Dezenas, centenas de pessoas mobilizadas, sonhando alto, querendo saúde, vida, desabrochamentos, como diria o mestre Cyro.

Num pequeno lampejo de esperança, sugerimos que Janimeire fosse escolhida como a primeira "Mãe Coruja" de Pernambuco. Falamos de seu perfil. Uma professora primária, morando na Chapada do Araripe, uma dessas guerreiras que o Brasil tem aos montes. Participou da última "Marcha das Margaridas", dá aulas para 25 crianças, tem um raro compromisso com educação.

Jordana, a amorosa filha, criou laços no primeiro instante. Fizemos aquela amizade pura e simples. Iramarai construiu com ela casas de papel. Dei um presentinho secreto que ela gostou muito. Paulo Henrique, o marido, um homem silencioso e aparentemente distante, envolvido com o mundo do roçado, acompanhava nossa chegada com pequenas gentilezas que revelavam quase uma candura.

Ontem, no lançamento do Mãe Coruja, em Ouricuri, o palco estava repleto de autoridades, políticos, secretários, representantes do Ministro da Saúde, enfim. Num cantinho, Janimeire, representando as mulheres grávidas do Sertão. Ao lado, Jordana, mais sorridente que nunca. Paulo Henrique, claro, preferiu ficar no seu canto.

Conversamos muito, falamos sobre o Programa, até que Jordana me pediu para ver o governador de perto. Foi, tirou fotos, depois voltou, e ficou comigo, colada o tempo todo.

Lá pelas tantas, perguntei se teria sopa novamente, quando voltasse à casa dela. Jordana respondeu que sim. Perguntei se teria rede para a gente. Ela disse que sim. Antes de perguntar mais alguma coisa, ela se antecipou:

"Vai ter tudo o que vocês gostam".

Janimeire vai ter uma filha. Jordana está cada dia mais linda. Esta foto de uma família do Sertão de Pernambuco nós deveríamos ter tirado antes, quando fizemos a travessia. Não desconfiávamos que voltaríamos para a arte do reencontro, nesse mundo cheio de desencontros.

Se o Programa Mãe Coruja funcionar bem de verdade, Janimeire brevemente saberá onde será seu parto, e ele deverá ser natural. Jordana vai ter uma linda irmã, que será amamentada, acompanhada, cuidada pela família e pelos serviços de saúde, e terá uma longa vida. E Paulo, aquele bom homem, seguirá cuidando do roçado e da família, sem muito alarde, cometendo suas pequenas gentilezas, suas delicadezas, como pegar um agasalho para um visitante que acabou de conhecer,, porque percebeu que ele está com frio.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sama,

Ver sua crônica materializada na foto da família foi como ser apresentado a quem já se conhece.

O sertão virou mar. Um mar de gente boa.

Um abraço,

Dimas Lins
www.estradar.com

Anônimo disse...

Sama,

Ver sua crônica materializada na foto da família foi como ser apresentado a quem já se conhece.

O sertão virou mar. Um mar de gente boa.

Um abraço,

Dimas Lins
www.estradar.com

Anônimo disse...

Sama,

não é à toa que simplicidade rima com verdade!

Abraços.

Simone Pires
simonepires77@gmail.com

Anônimo disse...

Sama, lá estou, mais uma vez, no Sertão com essa equipe maravilhosa e comprometida com a saúde dos pernambucanos. Foi tudo lindo, valeu...
Um grande abraço

Els Amorim