sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Pequenos sonhos

Estou à procura de um helicóptero para um vôo de uma hora sobre o Recife. Quem souber o preço do aluguel, por favor, me informe.

É que estou começando a realizar os sonhos dos meus amigos. Belém, motorista da Secretaria de Saúde, sonha em dar um vôo de uma hora sobre nossa amada cidade, e isso não deve custar muito caro.

Isso de realizar sonhos é uma coisa sem fim. Minha sugestão é simples: começar pelos sonhos miúdos, depois passar para os médios, até chegar aos graúdos.

Sempre sonhei em passar defronte a um campo de várzea, e ver um jogador fazendo um gol. Outro dia aconteceu. Um cruzamento da lateral, o cara emendou na pequena área, a rede estufou. Quase desci do ônibus para comemorar.

Davi, meu dileto amigo, sonha em ganhar na Mega Sena apenas para realizar o sonho de tirar todos os amigos do trabalho, indenizá-los, alugar uma Van e levar todos para beber, de segunda a sábado. No domingo, ficar com a família, que ninguém é de ferro.

Minha mãe sonha em ter um abrigo para ajudar os portadores de HIV. Minha mãe, se fosse muito rica, se fosse da elite, iria ajudar muita gente. Eu tenho uma gastura imensa de quem tem dinheiro, muito dinheiro, e não ajuda a quem pode, do porteiro à vizinhança.

Naná tem o sonho de ver a filha formada. Enquanto isso não acontece, usa sua Kombi enferrujada para levar as crianças do Poço da Panela para a escola.

Os sonhos miúdos são os que mais me encantam. Gustavo sonha apenas em ser poeta e viver com o pouco. Valdemir Leite sonha em aprender inglês e andar de bicicleta.

Sonho com uma cidade cheia de livros, biblioteca lindas e imensa.
Sonho com uma cidade inundada de leitores compulsivos, especialmente os jovens dos bairros mais pobres. Mais romances, menos repressão. Mais crônicas, menos violência. Mais poesia, menos mortes. É um sonho imenso. Por via das dúvidas, comecei com meus 80 alunos.

E sonho outras coisas também, miudinhas da silva, um dia conto.

Ah, sonho em dar uma festa bem bacana e chamar todos os meus leitores, só para ver a cara e o sorriso deles.

Dançaríamos todos de sapatos, até amanhecer o dia.

Depois, como diz o poeta, dançaríamos descalços o resto da vida.

10 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem que existem pessoas como voce e a Flávia Suassuna....pois às vezes acho que beiro ao retardamento. Tenho a mania de diariamente enviar um poema para meus amigos...variando o Gelman, Benedetti, Quintana, Bandeira, Drumond....e por aí vai....
vai aí um Gelman - que amo muito.
abraços,
Yvette Teixeira

sobre a poesia

haveria um par de coisas por dizer/
que não é muito lida por ninguém/
que esses ninguém são poucos/
que estão todos preocupados com a crise mundial/ e

com o assunto de comer a cada dia/ trata-se
de um assunto importante/ eu me lembro
quando tio juan morreu de fome/
dizia que nem se lembrava de comer e que pra ele não tinha problema/

problema veio foi depois/
não havia dinheiro para comprar caixão/
e quando finalmente o caminhão municipal passou para levá-lo/
tio joão parecia um passarinho/

o pessoal do caminhão olhou para ele com desprezo e com desdém/
murmuravam/
que eram sempre molestados/
que sendo gente eles enterravam gente/ e não
passarinhos como tio joão/ especialmente

porque o tio foi cantando piu piu a viagem inteira até o crematório
municipal/
e sentiram-se desrespeitados e estavam muito ofendidos/
e quando davam-lhe um tapinha pra calar a boca/
o piu piu voava pela cabine do caminhão e eles sentiam que ouviam um piu
piu na cabeça/ tio

joão era assim/ adorava cantar/
e não via por quê não cantar depois de morto/
foi para o forno cantando piu piu/ as cinzas saíram e ainda deram uns
pios/
os companheiros do municipal se entreolharam com os sapatos cinzentos de
vergonha/ bem mas

voltando à poesia/
os poetas passam muita dificuldade/
não são muito lidos por ninguém/ esses ninguém são poucos/
o ofício perdeu o prestígio/ para o poeta está cada dia mais difícil

conquistar uma linda namorada/
ser candidato a presidente/ ser patrocinado por um mecena/
que um guerreiro faça façanhas para serem cantadas/
que um rei lhe pague cada verso com três moedas de ouro/

e não se sabe se é porque acabaram as namoradas/os mecenas/ os
guerreiros/ os reis/
ou simplesmente os poetas/
ou foram as duas coisas e é inútil
esquentar a cabeça com uma coisa dessas/

bonito é saber que a gente pode cantar piu piu
nas horas mais estranhas/
tio juan depois de morto/ eu agora
para que me queiras.

Juan Gelman

Cláudio Machado disse...

Aqui em Brasília, o dono de açougue, criou bibliotecas ao ar livre em algumas paradas de ônibus. Os livros ficam lá sozinhos em estantes o dia todo, quem quiser pega e leva para casa e depois pode devolver em qualquer outra parada que tenha estantes.
Uma idéia muito bacana e simples e que tem um valor enorme de acreditar na honestidade das pessoas.
Está dando certo, tanto é que o acervo sempre cresce com doações voluntárias.

A Autora disse...

O meu sonho é não precisar de dinheiro. Não é ter dinheiro: é nunca precisar. É colher uma fruta quando tiver vontade de comê-la; viajar para visitar alguém querido sem precisar pagar pelo transporte; tomar uma cerveja gelada sempre e misteriosamente disponível na geladeira mais próxima. Essas coisas.

Samarone, vi nessa semana, no Jornal Nacional, uma matéria da Beatriz Castro sobre o "livro errante", aí de Recife. Você conhece? É o início da realização de um dos seus sonhos... espero que concretize, ajudando a semear outros tantos belos sonhos que surgem através da leitura.

Anônimo disse...

Eita sama,

que coisa linda, eu tenho o costume de colecionar as "pequenas felicidades do dia": aquele ônbus q sempre demora e um dia ele chega assim q vc encosta na parada; aquele banco que só vive cheio, não tem ninguém e vc é o único do caixa; aquele amigo/amiga que não encontramos há anos e topamos com eles na rua e matamos saudades, etc etc...

Já me sinto convidada pra sua festa.

Abraços.

Simone Pires
simonepires77@gmail.com

Anônimo disse...

e eu que nunca danço de sapatos, que já os perdi há tempos de infância, que já não tenho nem pés, apenas sedes de tantos caminhos, será que ainda assim poderia dançar descalça, deixando voarem os calcanhares que não endureceram porque giro sempre nas pontas dos dedos calejados, eu que já não guardo todo o mistério do sorriso que virou a minha própria cara, será que poderia dançar entre os outros nessa festa, mesmo sem sapatos?
beijos
justine

Anônimo disse...

ah, adorei o teu mundo pintado de azul, estuário límpido como as águas que sonhamos na vida. como já dizia o poetinha: "é bom morar no azul"...
mais beijos
justine

Anônimo disse...

O meu sonho era poder ter sido professora ganhando o salário do cargo público que tenho hoje...

Luna Freire disse...

Podemos começar pela festa. Dividimos os custos. Pelo blog mesmo, a gente organiza tudo... aliás, podemos incluir na divisão de custos um valor a mais para poder realizar outros sonhos de outras gentes. Que tal?

Anônimo disse...

Samarico,tudo bem ?
a verdadeira felicidade, está nas coisas mais simples, com por exemplo, nas folhas que caiem, nos pincos de chuva, que nos trazem de algum lugar, certas nostalgias, e nas pequenas e sensiveis palavras que nos dizem tudo.

Paz e muita luz amigo.

Peste

Anônimo disse...

Adorei Sama, todos os dias dou uma olhada no seu blog, é, quero dizer, quase todos os dias, to com uma saudade do kramba, mas, foram umas coisinhas miudas q não me deixam te esquecer, e nem quero tá!
Saibas q ñ foram só 80, estamos multiplicando e vc foi o comeco de tudo isso!
Valeu bicho, por tudo, o brilho dos teus olhos quando falava do prazer na leitura, alimenta o meu desejo de buscar e passar cada folha dos livros.
Um forte abraço de sua aluna, hoje apaixonada por Mario Quinatana, amanhã por outro talvez.
beijão!!!
Cassia Ribeiro - Azulbaby_@hotmail.com