Vai um trecho do livro do Elio Vittorini (Cosacnaify), minha sugestão para os finais de 2007, com tantos homens e tantos nãos.
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"De quem é aquele vestido? Ele olha para ele, e eu também olho. Uma vez chegamos a tocar nele.
"Não o deixo sozinho", digo-lhe. "Não sou seu amigo?".
"Sim, ele diz". "Obrigado".
"Eu posso fazer muito por você".
"Sim", ele diz.
"Sim", digo-lhe.
"O que é?", ele me diz. "Tenho necessidade de descansar".
E me olha. "Sabe o que eu gostaria?"
"O quê?", eu lhe pergunto.
"Um dia da minha infância".
"Não é difícil tê-lo".
"Metê-lo dentro da cabeça".
"Não é difícil", digo-lhe. "Quer?"
"Com uma diferença".
"Que diferença?"
"Com a coisa que há entre mim e ela".
"Como?", pergunto-lhe. "A sua infânci e essa coisa juntas?"
"A minha infância e essa coisa juntas".
"Mas não é real".
"É duas vezes real".
"Você de antes?", digo-lhe. "E você de agora?"
"Eu na minha infância", ele diz-me. "E ela também na minha infância. A nossa coisa em um dia então".
"Mas você", digo-lhe, "não a conheceu menina".
"Eu conheço tudo dela".
"Você estava na Sicilia e ela na Lombardia".
"Eu estava também na Califórnia".
"Mas vocês nunca se encontraram nas suas infâncias".
"E não podemos nos encontrar agora?"
"Vamos tentar", digo-lhe. "Podemos ver".
"É para enfiar dentro da cabeça", diz ele.