Espaço para crônicas das mínimas coisas. Estuário é o lugar de encontro do mar com o rio, uma das regiões mais férteis do planeta. Salgado e doce se misturam, como o suor e a saliva. É a desembocadura de um rio, que pode ser muito bem o Capibaribe, que atravessa o Recife, cidade onde vive o autor dos textos, Samarone Lima.
sábado, 15 de dezembro de 2007
Sabonetes Vinolia e canetas Bic
Da esquerda para a direita: Ze Vicente, Paulo, Tonho e Samarone.
El Malecon, Havana, Cuba (Foto: Rob Stradling)
Crianças jogando futebol em Havana (Foto: Chris Bury)
Teve um reveillon que passei em Buenos Aires, outro no Uruguai, outro no Chile, num povoado chamado Chiu-Chiu. Desconfio que, por conta da tradição andarilha do meu povo, eu tenha herdado esta mania de muitos lugares. Estou novamente na estrada. Na foto acima, estamos fazendo a travessia Imperatriz-Crato, em mil novecentos e setenta e seis. Meu teclado continua sem escrever certos numeros e acentos, perdão.
Daqui a pouco, estarei embarcando para Havana, retornando somente o ano que vem. Há pouco, terminei a cerimônia de preparação da mochila, que já me acompanhou por tantos cantos do planeta. Ela, a mochila, tem o azul e o amarelo do Boca Juniors, mas prefiro o Vélez Sarsfield, desde um jogo maluco que assisti acompanhado de um garoto francês, de sete anos, que levei ao estádio, numa rara imprudência dos pais e minha, há seis ou sete anos.
Consultei amigos, liguei para meus contatos em Cuba. Descobri que algumas coisas são muito boas de levar de regalo: boligrafos, que são canetas, chaveirinhos, artesanias de Brasil, sabonetes Vinolia e caramelos. Fui hoje ao mercado do Cabo e mandei ver. Enchi minha mochila de canetas Bic, principalmente as de cor preta, um lote bom de sabonetes, e um saco grande de caramelos.
Falei com Nilda, que vai me receber, e no primeiro contato, viramos amigos de longo tempo. No aeroporto, terei que dizer que vou ficar na casa de uma amiga intima. Ela disse que vão me pedir plata logo que eu chegar, e terei que dizer que sou um brasileiro pobre, que veio conhecer Cuba. Como não tenho muito dinheiro e cara de turista mesmo, vai ajudar. Depois do aeroporto, terei que pegar os “Camelos” , que são ônibus muy largos, que levam milhares de pessoas. Irei ao bairro de Vedado, onde ficarei, pela graça divina.
Estou levando o notebook, na esperança de escrever muito sobre as pessoas, o cotidiano, a vida, os sonhos e esperanças dos cubanos. Se a Internet não for tão cara, postarei algo.
Aos meus leitores, bom Natal e ótimo reveillon. Vi hoje no jornal que aboliram os toldos da praia de Boa Viagem, o que me pareceu justo. A praia tem que ser de todos, não de toldos, perdão o trocadilho infame.
Estou levando a camisa oficial do Santa Cruz, que causará, obviamente, um enorme tumulto nas imediações do Malecon, com todos querendo ficar com a camisa do Mais Querido. Trocarei por algo da mesma nobreza, como a camisa oficial da seleção cubana de Vôlei, ou cinco caixas de charutos e dois litros de rum.
Nos demais, fica o registro das coisas minúsculas. O sabonete Vinolia, que nem damos bola, faz um enorme sucesso entre os cubanos. O mesmo serve para as canetas Bic.
Levarei cheiros e tintas para os irmãos cubanos. E meu coração já começa a bater mais forte.
samalima@gmail.com