Em dezembro de 2004, quando ainda tinha a coluna “Estuário”, no JC On Line, publiquei um texto intitulado “Pequenas histórias de amor – volume I”. Era a história de um sujeito que se apaixonou por uma garota quando tinha 15 anos, em 1984. Um amor silencioso e tímido, celebrado com a música “pela luz dos olhos teus". Ele recordou, vinte anos depois, do dia em que ela fez circular na sala de aula, num daqueles famosos caderninhos para deixar mensagens (que depois todo mundo perde), e do exato momento em que atravessou a fronteira da timidez e escreveu: “você é meu único e definitivo poema”.
O texto entrou na seleção do livro “Estuário”, que publiquei ano passado, pela Livro Rápido, livro que contou com a apresentação do jornalista João Magro Valadares, uma apresentação tão bacana, que ele citou até crônicas que não estavam no livro, o que não deixa de ser uma inovação no mercado editorial, gosto muito dessas ousadias intelectuais.
Eu já tinha escrito o volume II da série “pequenas histórias de amor”, uma história também linda, um encontro retumbante que uma grande amiga viveu, mas o desenlace foi triste, e não achei graça nenhuma em publicar uma história de amor com final infeliz, apesar de saber que isso faz parte da vida, a gente toma cada pau da porra nessas coisas do amor, mas eu gosto de final feliz, fico puto com filme que tem final infeliz e não vou usar meu pequeno espaço de Blog para ficar escrevendo coisas tristes, me perdoem a sinceridade.
Então me chegou um email da Keila, uma pessoa muito bacana, que insiste em ler Estuário nas horas vagas. Vamos ao texto:
"Meu caro Samarone...
gostaria de te fazer algumas perguntas, se vc me permitir...
Lembra (claro que lembra!) de uma crônica sua publicada no JC Online que falava de uma história de amor entre duas pessoas que tinham dificuldades de vive-la intensamente devido a situações e escolhas da vida?
O título (se não me falha a memória!) era: "pequenas histórias de amor vol. 1". Pois é...
Agora vem a minha pergunta : essa história foi fruto de sua inspiração ou vc se baseou em alguém que realmente viveu coisa parecida?
2ª pergunta: Se foi baseado em fatos reais, como anda esse casal que viveu tanto tempo escondendo o amor deles ?
3ª pergunta: se não foi baseado em fatos reais, pq vc não faz uma crônica continuando essa belíssima história??
Aguardo suas resposta, meu caro poeta!
Forte abraço pra vc."
Respondo por partes.
Eu tenho meus lampejos de inspiração, mas inventar uma história como aquela, cheia de detalhes e confissões, seria muita, mas muita inspiração, e eu deveria estar escrevendo era contos e ganhando uns trocadinhos. Foi baseado em pessoas reais, um grande amigo me contou a história com os olhos brilhando, e eu perguntei se poderia escrever no Blog. Ele autorizou e aproveitou para me contar a mesma história 40 vezes, em dois dias, então decorei tudo, nos mínimos detalhes.
Não é que o casal “viveu tanto tempo escondendo o amor deles”. Creio que não era o momento, e eles seguiram vivendo, fazendo coisas, os dois casaram, ele teve filhos etc. Não sofriam por algo que não era pleno, apenas tinha algo lá, guardadinho, aquele sentimento, aquele "um dia, vamos viver isso", a tal cosquinha no coração.
Mandei o email da Keila para o casal. Ela, a mulher da história de amor, preferiu ficar mais quietinha, silenciosa, mas ele, o meu amiog, me mandou a seguinte resposta, reveladora do tamanho do sentimento:
“Olá velho,
Gostaria de aproveitar a oportunidade que o Estuario me oferece para fazer uma Pequena Declaração de Amor (vol 2, o primeiro volume foi e-mail que enviei e desencadeou tudo)
Afinal não tenho já não tenho medo de admitir que:
é com ela que gosto de enroscar as pernas ao acordar;
para ela que quero levar café na cama, no meio da manhã;
é no corpo dela que curto passar o sabonete novinho, recém saído da embalagem;
é ela quem transforma em jóias as pequenas bijoterias do cotidiano;
diante dela que me sinto homem ao dizer "sou teu, somente teu";
com ela quero catar pedrinhas no fundo da piscina;
com ela quero marcar viagens, realizáveis ou imaginárias - para Caruaru ou Timbuctu;
com ela, andar de mãos dadas é passear por um paraíso antes desconhecido;
ao lado dela, sou capaz até de esperar uma inspeção por vitrines de lojas;
com ela, quero - mais uma vez - trocar fraldas e dar banho num filho;
com ela, quero acordar sabendo que estou um dia mais velho - e adormecer, acreditando estar um dia mais jovem”.
Bem, a resposta foi dada.
E ainda dizem que não há mais homens românticos na cidade...
8 comentários:
Estava tentando acessar um site de nome Estuário e acabei caindo aqui sem querer.... e não é que lendo teus textos, e em especial este, vi minha vida?????
Amei um homem casado, casei depois, continuamos nos amando e ainda não chegou nossa hora!!????
Era o impulso que precisava para continuar esperando e amando e amando e amando...Você acabou de abocanhar mais uma leitora fiel. Abraços.
Meu caro Samarone...
confesso que fiquei surpresa com a presença do e-mail entre suas palavras!! Mas uma grande e deliciosa surpresa...
E fiquei tb extremamente feliz em saber que ainda existem pessoas (homens e mulheres) que acreditam no encontro com o amor!! O encontro entre almas...
Desejo, com toda força de meu coração, a eternidade desse sentimento ao casal dessa belíssima estória!! Que sejam eternamente felizes...
Te agradeço pela resposta... pela particularidade da resposta! Pela surpreendente e carinhosa resposta!
Obrigada tb por permitir a todos nós, leitores, momentos mravilhosos de encontro com a poesia e...com os sonhos!!
Obrigada, mais uma vez, por nos fazer acreditar nesses nossos sonhos, acreditar na possibilidade da sua realização, mesmo que estejamos cercados de pessoas e situações que nos empurrem para a descrença neles.
E, finalmente, obrigada pela sua presença em nossas vidas!!
Grande beijo em seu coração!
Carinhosamente, Keila
Ah, Sama...
Não era só a Keila quem pedia uma continuação desta linda história... (Vide meu comentário neste post: Pequenas histórias de amor, volume II - além de pedidos sempre que tive oportunidade! Hehehehe)
De qualquer forma achei lindo...
Obrigada, Keila!
Obrigada ao teu amigo apaixonado!
Beijo agradecido em vc também!
Ahhhh...
Esqueci de sugerir: vc bem que poderia republicar a primeira parte aqui! É realmente linda...
Sama,
Tu és demais... Quando eu pensava que tudo estava quietinho, em silêncio...
Beijos
Sama, tenho lido seus post em silêncio há vários meses. Gostaria muito q vc publicasse aqui uma cópia desse texto original q rendeu o post de hoje, fiquei curioso.
Muito obrigado por sua atenção
Abraços
atendendo a um bocado de pedidos, amanhã colocarei a versão inicial de "Pequenas histórias de amor - volume I".
parece que os leitores andam românticos também...
samarone
Sama, lembro perfeitamente dessa história, pois li várias vezes no livro, achei linda. Ele é um dos últimos românticos.
bjos
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