Espaço para crônicas das mínimas coisas. Estuário é o lugar de encontro do mar com o rio, uma das regiões mais férteis do planeta. Salgado e doce se misturam, como o suor e a saliva. É a desembocadura de um rio, que pode ser muito bem o Capibaribe, que atravessa o Recife, cidade onde vive o autor dos textos, Samarone Lima.
sábado, 5 de agosto de 2006
Pequenas histórias de amor, volume II (final da Blognovela)
Gerrá e Alessandra: futebol e amor.
Bem, como eu vinha dizendo, Gerrá e Alessandra passaram juntos o Carnaval de 2002, e descobriram que estavam mesmo namorando, aquele negócio de andar de mãos dadas, ir ao estádio juntos, comemorar abraçados, cada gol do Santa, e só depois se lembrar dos amigos.
Gerrá, que tocava zabumba, começou a acompanhar o sanfoneiro Chiló (com “ch” mesmo). Alessandra tocava triângulo, e completou o trio. Em pouco tempo, surgiu o trio “Custo Mínimo”, e o casal começou a juntar música, futebol e paixão, uma combinação realmente muito boa para qualquer casal. E assim, o tempo foi passando, porque o tempo sempre passa. Parece que desta vez os caminhos finalmente tinham se encontrado, e o casal não iria mais pegar atalhos, certo?
Certo. No dia 13 de julho de 2006, agora há pouco, perdão pelo salto no tempo, não vou fazer uma novela de 331 capítulos, Alessandra foi fazer outro exame de rotina, a exemplo do exame que detectou um aneurisma, e foi informada que tinha, na verdade, era um filhote crescendo no útero, com mais de um mês. Os exames dela são assim, tudo com novidade pauleira. No primeiro, um aneurisma, no segundo, uma gravidez.
“Fui fazer um preventivo e descobri que tinha um menino na minha barriga”, disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Mas cá entre nós, para quem foi informada que tinha um aneurisma cerebral, receber a informação de que vai ser mamãe, é uma festa.
Novamente, o destino pregava uma peça. No dia 13 de julho de 2005, exatamente um ano antes, tinha sido fundada a Torcida Organizada Musical Sanfona Coral. A idéia era simples: cada jogo do Santa, haveria um forró nas arquibancadas. Quem tocava na Sanfona? Adivinhou, leitor sabido: Chiló, Gerrá e Alessandra. O projeto foi o maior sucesso, saiu matéria em todos os jornais, e o casal vivia momentos de felicidade. O êxtase veio com a conquista do Estadual de 2005, após um jejum de nove anos. Logo depois, o Santa subiu para a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro.
Mas voltando ao assunto (caramba, hoje estou disperso paca), Alessandra recebeu o exame da gravidez e telefonou para Gerrá. Faltavam duas horas para o jogo Santa X Goiás, e toda a torcida estava nervosa. Aqui vai uma explicação de contexto: o Santa tinha feito uma péssima campanha antes da Copa, estava na lanterna do campeonato, com reles três pontos, e era o primeiro jogo depois da Copa do Mundo. Tinha que vencer de qualquer jeito, para sair do atoleiro. Alessandra ligou para Gerrá:
“Precisamos ter uma conversa séria. A gente se encontra no escritório do meu pai”.
Gerrá pensou: lá vem Alessandra com esse negócio de “conversa séria”. É que os dois tinham brigado no domingo anterior, e certamente haveria aquele negócio que mulher adora, que é “discutir a relação”. Ele, como bom tricolor, foi ao escritório, mas estava preocupado mesmo era com a hora. Faltavam duas horas para o começo do jogo.
Ele chegou às 19h, o jogo era às 20h30. Estava tenso. Iria concordar com tudo o que ela dissesse, para não chegarem atrasados ao estádio. Além disso, a Sanfona Coral iria tocar.
“Senta aí, que vou te falar logo”, disse ela.
Gerrá, obediente, sentou.
“Pensei que era conversa de relação. A gente tinha discutido, eu tinha certeza que ela iria querer chamar para discutir”, avaliou o malandrão.
Com o exame na mão, Alessandra começou a fazer perguntas.
“Tu gosta de mim, Gerrá? Vou precisar muito do teu apoio neste momento”.
Ele pensou: pronto, a mulher foi fazer um exame hoje, deve ter descoberto outro aneurisma, a mulher vai morrer justamente agora, que o time está na Primeira Divisão.
“Promete que vai cuidar de mim, Gerrá?”
Nosso amigo gelou. Pensou em perguntar quantos meses de vida o médico tinha dado, se não poderia fazer outra cirurgia. De qualquer maneira, se preparou para acompanha-la até os últimos dias, na saúde e na doença, como dizem no casamento, mesmo sem terem casado ainda.
Ela abriu o envelope e mostrou o exame. Gerrá olhou aquele negócio miúdo e pensou:
“Caralho, ela está com um caroço de feijão na tireóide!”
Depois de olhar o exame de tudo que é jeito, colocar contra a luz, observar palavras que não entendia, Gerrá olhou demoradamente para Alessandra e perguntou:
“Estás grávida, é?”
Alessandra, botou para chorar de soluços. Levantou a blusa e mostrou o desenho que tinha feito na barriga. Era um bebê e as palavras:
“Já sou tricolor”.
Se abraçaram, foi aquela emoção que não preciso nem descrever, mas Gerrá alertou:
“Estamos atrasados para o jogo”.
Chegaram ao Arruda em cima da hora, os amigos estavam já nas arquibancadas, o time estava em campo, Gerrá não tinha como chegar para um amigo, entre um ataque e outro do clube e dizer:
“Óia, Alessandra está gravida”.
Ficou com aquilo entalado.
O Santa terminou o primeiro tempo perdendo de 1 x 0. Gerrá e Alessandra tinham certeza de que o filhote iria dar sorte ao time. Lá pelas tantas, veio o empate. Perto do final, o gol da vitória: 2 x 1.
“O menino nasceu vitorioso”, comemorou Gerrá, à saída do estádio.
Nos jogos seguintes, o Santa enlouqueceu. Ganhou de 4 x 1 do Fortaleza, 3 x 0 do Flamengo, e 1 x 0 do Corinthians.
Gerrá e Alessandra juram que é por causa do menino. Eu concordo.
Ps. No dia 9 de setembro, eles vão casar, em Bezerros, interior de Pernambuco. Pensaram em casar na Igreja de Santa Cruz, no bairro onde nasceu o clube, e batizar o menino na piscina do clube, mas lembraram da família, e família sofre muito com esses acessos de loucura dos pais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Amei, amei, amei... Samarone!
Bem que vc disse, foi a melhor parte! Mas acho que o vol. é o IV, não? rsrsrs
Boa sorte pro herdeiro e pra família tricolor!
Que esse bebê continue trazendo harmonia necessária pra relação de vcs!
E sorte so Santa, por que não??
hahaha
Obrigada, Samarone, por compartilhar conosco esta história de amor.
um abraco,
Claudia
emocionante. Quero dá um chêro nela.
massa a história Sama, acho que vou ter um filho pra ver se o Náutico para de levar gol no finalzinho...
Eita que massa!!!
Parabéns aos noivinhos pelo pequenino que vem por aí!
Beijos e felicidades sempre.
Rosinha.
Postar um comentário