quarta-feira, 9 de maio de 2007

Alguém conhece o "Seguro-Livro"?



Com a parceria fina do João Lin, mago do traço.

Tem seguro de vida, seguro-saúde, seguro do carro, tudo que é tipo de seguro, nesse mundo tão inseguro, mas pergunto aos leitores se alguém se lembro de criar o "Seguro-Livro".

É que a barra não está fácil para o meu lado. Há uns dias, as goteiras lamberam meus poetas e romancistas prediletos. Numa ação tática fenomenal, recolhi os que estavam secos, encontrei uma parte da casa bem enxuta, e os botei para dormir ali. Foi justamente onde nasceu uma fonte de água, mais forte que a fonte que existia na pracinha principal do Crato, meu torrão natal.

Hoje de manhã, quando vi a cena, pensei em chorar, mas chorar tem lágrima no meio, lágrima tem água, e minha intuição diz que iria prejudicar mais ainda a situação.

Então veio um sol bacana, e botei todos eles para um bom banho de sol. Espalhei-os pelo chão quentinho, o Rilke se espreguiçou, o Celan agradeceu, a Cecília Meireles deu espirros, com a súbita mudança no clima.

Fui lá dentro bebericar um café, olhei para o céu, apareceu uma nuvem grossa e escura, dei uns assopros com força, ela foi para as bandas da Enseada dos Corais. Isso é que é um pulmão bom esse meu, foi o que pensei.

Voltei para olhar os livros. Bam Bam, o vira-lata da tia, tinha aproveitado minha ausência para dar uma bela mijada no Rimbaud, Nunca vi um cachorro gostar de mijar poetas, mas o Bam Bam é dose, outro dia ele ensopou uma caixa de romancistas, acertando o olho do Onetti em cheio. Eu disse "sai daí, Bam Bam" com cara de mau, ele ciscou duas vezes e saiu com um andar literário, um flaneur canino, balançando o rabo.

Trouxe mais um lote de livros para a escola onde trabalho, que tem uma biblioteca em fase de nascimento, coloquei-os em cima de uma enorme mesa, e os leitores vão achar que estou criando coisas, que estou com mania de perseguição. O ar-condicionado, da marca "York", começou a pingar. Isis Camila, minha aluna, me alertou:

"Sama, os livros estão molhando".

Macacos me mordam, é o fim dos tempos.

Mudei os livros de lugar. Atingidos, nesta safra: Mia Couto, Mário Faustino e Herberto Helder. Não tem sol agora neste final de tarde bucólico do Recife, então eles vão ter que encarar uma noite meio gelada.

Gostaria de saber com os distintos 61 leitores, se alguém conhece um serviço tipo "Seguro-Livro". Você dá a lista de livros, o corretor anota, diz quanto você paga por mês, e em caso de sinistro (essa é boa), você recebe o livro atingido de volta, em pouco mais de 48 horas. Sem franquia, que acho isso de franquia um roubo, e sem essa de vistoria.

Mas será uma volta aleijada. Meus livros, sem minhas anotações, rabiscos, observações, não são meus.

São como esses livros que ficam solitários nas prateleiras das livrarias ou sebos, à espera de um dono.

Livros de ninguém.

7 comentários:

popfabi disse...

ai, essa não!
que coisa essa chuva aí no nordeste! a gente torrando no sol do cerrado e na secura sem fim!
ó, receita de alérgico e por livro no microondas. diz que mata tudo quanto é ser vivo que mora neles...sei lá, vai ver que dá uma secadinha também...
boa sorte!

Zé Costa disse...

Caríssimo Samarone.

A idéia do seguro-livro embora tentadora, não me parece a solução mais adequada. Melhor, mais simples e mais barato é fazer como nossos pais, os meus faziam, plastificar os livros e em dias de chuva recolhê-los a um lugar seguro, hermético, e mais importante: seco.

um abraço.

PS: Também estou no cerrado e com efeito,a secura desses dias acaba com minha alma de praia.

Anônimo disse...

Poxa, mas até em mim deu vontade de chorar.
Essa perseguição aquática tinha que vir atrás logo dos livros?
rsrsrs

Anônimo disse...

Dr. Sama,

Sim, já existe o seguro livro, como também o seguro anotações e rabisco, inclusivo o proprietário do livro escolhe o anotador e rabiscador, pra vocé sugiro o J. Teles.

Nabuquinho

Anônimo disse...

Samarone,

Você é mesmo um poeta das cavernas. Ouso dizer que é mais poeta quando escreve crônicas de que quando escreve poesias. Mas isso é outro assunto. Agora sobre os livros molhados... Sei que você ADORA E IDOLATRA a PRECARIEDADE pois ele é sua fonte inspiradora. Entretanto os livros são também sua fonte inspiradora e não merecem ser expostos a tamanha precariedade. COMPRA UMA ESTANTE PORRA! Daquelas feitas com madeira revestida com formica e com vidro para facilitar a localização dos livros. Goteira na estante sim, até pode ser mas sem molhar os livros... isso é que é vida!
Beijos,
Eu

Anônimo disse...

Sama,

Achei nojento os livros mijados.
Deus que me livre, que cão mais sacana.
E vc vai ficar lendo até dormir com o livro caído de mijo na cara? Eca..eca..eca...
Imagino que o aroma de mijo no livro molhado é mesmo terrível.
SemNoção

Anônimo disse...

Sama, estou morrendo de rir com a crônica e com os comentários. Obrigado por isso. Um abraço, Eduardo.