Hoje é sexta-feira da Paixão, em toda esquina do Recife tem uma encenação da morte e ressurreição do camarada Jesus, mas estou no Cabo de Santo Agostinho, e aqui no Cabo a turma não liga muito para essas histórias. Comprei um vinho meia boca, botei para gelar, a Rosa fez peixe assado, a tia está lendo o jornal que comprei, um vizinho escuta canções evangélicas na maior altura. Fora isso, o sol está supimpa, e se eu não fosse um perfeito idiota, deveria estar mesmo era dentro do mar, dando umas braçadas.
Diante dos fatos, pensei: vou atualizar o Blog, que ando preguiçoso. Claro que meus 58 leitores não reclamaram, mas eu sei quando estou preguiçoso. Ultimamente, ando mais lendo que escrevendo.
Pois bem, estava pensando num tema, e me ocorreu a figura do rabino Henry Sobbel, preso outro dia levando umas gravatinhas de uma loja, em Miami, creio.
Que azar do cacete! Conheci o rabino quando trabalhava como repórter em São Paulo, fiz muitas matérias com ele. O cara foi uma figura muito importante durante os anos de chumbo da Ditadura, fez uma dobradinha espetacular com o Dom Paulo Evaristo Arns. A última vez que o vi, foi quando o Inácio, meu dileto amigo, recebeu o Prêmio Wladimir Herzog de Jornalismo. Estavam lá o rabino Henry Sobbel, Dom Paulo Evaristo Arns e o reverendo Jaime Wright, da Igreja Anglicana. Os três ganharam um prêmio especial de Direitos Humanos, pelo que fizeram pela humanidade, de uma forma ecumênica e muito bonita.
Pois bem. Depois de toda uma vida de lutas, de preocupação com o próximo, de contribuição para a aproximação das religiões, o camarada acaba fotografado e aparece no mundo inteiro como um reles, um atrapalhado ladrão de gravatas! Caramba, não dava para o vendedor pegar as gravatas de volta, dar um carão no rabino, dizer que roubar é feio e Deus castiga, e ter liberado o Sobbel? Precisava ter fotografado o camarada, e depois o negócio circular no mundo todo?
Uma vez, numa livraria, eu estava tentando levar indevidamente um livro. Um vendedor percebeu o livro entre minhas coisas, discretamente retirou o livro e o colocou de volta à prateleira. Isso sim, é que é um santo homem. Um estardalhaço ali, quando eu tinha reles 21, 22 anos, poderia ter sido um troço para desestruturar o camarada.
Sei lá, o mundo está vivendo uns exageros. Daqui a pouco, quando abrir meu vinho fuleiro, vou fazer um brinde ao velho e bom rabino Henry Sobbel. Se eu tivesse uma grana legal, comprava uma gravata bem bonita e mandava para ele, de presente. Mandava com um recadinho:
"Rabino, não ligue para os exageros do mundo. Bola pra frente, que atrás vem gente".
Boa Páscoa para todos.
5 comentários:
roubar gravatas para com elas dependurar esperanças
roubar esperanças para com elas
dependurar nós mesmos
no incabível mundo.
Sama, o Henri é um dos nossos...um santo ladrão.
Sama,
Aprendi a admirar o rabino Sobel desde o tempo em que estudei na USP, pelas suas posições em favor dos Direitos Civis, com firmeza e convicção de suas palavras. É lamentável o seu momento de fraqueza, revelando o seu lado humano mais próximo de qualquer mortal.
Mas nem por isso, deixarei de admirar a sua história. Seu passado é muito maior que um simples ato falho de fraqueza humana.
Aproveito para convidar você e seus leitores a visitar o meu blog, dedicado à defesa do meio-ambiente.
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Sds
Joaquim Alves
Samarone, sou a número 59. O que quer dizer que sou sua qüinquagésima nona leitora, mas como acho que o uso do trema é muito polêmico e um tanto pomposo, vou ignorar o ordinal. Num mundo que nos rouba mais do que nos dá, o estardalhaço com o lapso de Sobbel é, no mínimo, desumano, muito injusto com quem já nos ofereceu tantas lições de humanidade e respeito ao outro. Boa Páscoa para ele, para nós.
Número 59.
Se o cara da Livro Sete quisesse ter te fichado, tu tava no Aníba até hj, né, Sama??
Quando as coisas grandes e importantes que acontecem no mundo são feias e sujas, o homem faz das pequenas grandes, para que as grandes diminuam e sejam esquecidas.
Belo blog, adorei!
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