quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Essa mania de andar pelo mundo me trouxe tanta gente linda...

Essa mania de andar pelo mundo me trouxe tanta gente linda, que às vezes me pego pensando, numa sexta-feira à tarde, enquanto espero o ônibus:

"O que estará fazendo o Josmar, neste exato momento?"

O melhor jornalista do Brasil deve estar telefonando para suas fontes, dentro de presídios, em gabinetes, no Ministério Público, ou recebendo mais alguma denúncia de violência policial nas prisões, de algum familiar de preso.

O incansável Josmar. O magricela barbudo, que anda malamanhado, com uma caneta Bic e um bloquinho na mão, que já foi confundido com um morador de rua, por uma delegada. O homem que já olhou para um coronel, que não queria deixar a Imprensa cobrir uma catástrofe, com a seguinte frase: "Coronel, a época da ditadura já passou". O homem que não deixa uma boa história escapar nunca. Agarra-a com as duas mãos, e bem forte, e só respira aliviado quando o texto é publicado, de preferência uma página inteira. Avesso às badalações, Josmar só pediu uma coisa, quando lançou seu livro sobre o PCC - não ter que dar entrevistas.

Tomamos muitos porres no Mutamba, em São Paulo, até que um dia ele resolveu parar de beber. Chegou ao extremo de morder seu próprio cachorro, numa dessas bicadas. Achou que o animal estava olhando-o atravessado. Está há quatro anos invicto.

Selma Nunes, a Selminha, onde andará?

No lançamento de "Zé", em 1998, ela fez tudo, organizou a pequena encenação, foi a única amiga de Sampa a viajar comigo para Belo Horizonte. Sempre dizia que seria a minha agente literária, e quando algum livro meu vender muitos exemplares, vou ligar para ela, cobrando seu trabalho.

Hoje recebi um email da Solange, a Sol, que trabalhou comigo no Diário Popular, em São Paulo. Uma mulher imensamente linda, afetuosa, doce, que sempre vinha saber o que eu estava escrevendo. Que bom que ela encontrou este Blog e entrou em contato.

Alguns amigos sei que dificilmente encontrarei, como o Agenor, amigo da quinta-série, carne e unha comigo. O que fez o Agenor da vida? Será médico, doutor, padre ou policial? Casou, teve filhos? Mora ainda em Fortaleza?

São pessoas que entraram na minha vida e agora estão distantes, mas tenho na memória como algo definitivo.

A Camila Vinhas, o que faz agora? Morava num prédio bem próximo ao meu, na Santa Cecília, e lembro que ficou exultante com um livro do T.S. Eliot, que dei de presente no seu aniversário. Será que conseguiu fazer a transição do jornalismo para a dança, que tanto queria? Creio que sim.

Todos os dias lembro do velho Daniel Raton, aquele velho burlesco e intrigante, com seu humor sarcástico e ódio aos turistas, que chamava "carne em trânsito", no albergue de San Telmo, em Buenos Aires. Nos vimos a última vez há três ou quatro anos, ele acenando de longe, com um cachecol no pescoço, quando tive a impressão de que não mais nos encontraríamos.

Um cubano que conheci nas andanças pela Argentina. O velho índio que comandou uma cerimônia naquele final de ano incandescente, que foi 1999. A mulher que leu minhas mãos, no deserto de Atacama. A Socorro, que primeiro conheci como personagem do livro "Zé", e depois se tornou amiga, ou que estará fazendo neste setembro de 2007? Será que continua sua pajelança pela vida?

Dizem que no Orkut, você pode digitar o nome da pessoa e encontrá-la facilmente, porque metade da população brasileira tem conta por lá. Mas eu sou uma criatura arredia a certas coisas. Não sei, é modernidade demais para o meu gosto. Prefiro alisar as lembranças, espaná-las com paciência e deixar o tempo agir. Qualquer hora, vou a São Paulo passear, perambular, esbarro na Selminha, vejo o Josmar tomando um café, enquanto especula sobre uma nova reportagem nova.

Agradeceria muito se alguém desse notícias do Daniel Raton, mi viejo amigo. Chama-se Daniel Zahra. Vai ser difícil encontrá-lo, já sei. Gustavo é minha esperança.

Mas como essa vida é cheia de mistérios e penumbras, sei que vou encontrar muita gente maravilhosa pela estrada. A vida é cheia de inaugurações e acenos. Cada criatura dessas me trouxe um pouco de devoção à vida, e só me resta agradecer.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sama,

Agora bateu uma saudade de tanta gente boa que conheci e desencontrei por esse mundo. Senti saudades dos amigos de infância, dos professores do primário, dos amigos da faculdade e de tantas outras que entraram na minha vida, mas depois desapareceram.

É isso mesmo. A vida é assim. Ela mesma traz e ela mesma leva. Vou ficando por aqui, se não vai dar chovisco nos olhos.

Dimas Lins
www.estradar.com

Anônimo disse...

Além de inspirar minhas leituras, com de seus comentários sobre livros (ainda não consegui encontrar o "Tu, meu", do Erri de Luca), você também verbaliza sentimentos - aqueles que a gente traz dentro da gente mas não consegue expressar. Esse "prefiro alisar as lembranças, espaná-las com paciência e deixar o tempo agir" já está devidamente catalogado no meu caderninho mental. Bj, Ane.

Unknown disse...

Essa tua mania de andar pelo mundo, te levou pra tanta gente...