Estou aqui pagando meus pecados. Na aula de ontem, de Jornalismo Literário, disse todo eloquente aos alunos que o desafio do escritor é escrever, mesmo sem inspiração, por força do ofício.
Estou aqui na escola, já dei aulas, já corrigi textos com os jovens, já caçamos palavras no dicionário, vi email, respondi, tomei café, perambulei, conversei com uma aluna para tentar convencê-la a fazer um pré-vestibular, e nada.
Definitivamente, não tenho a crônica do dia.
Sou salvo pela minha chefa na escola (sei que não se usa chefa, mas ela é a chefa, fica por isso mesmo), que me telefone do Rio de Janeiro.
"Estou num sebo, no Flamengo, e encontrei o Clamor", diz, exultante.
Fico em estado de graça, pergunto pelo preço.
"Quinze reais", me diz.
Perguntei se o ex-dono tinha anotado seu nome e a data. Infelizmente, não.
"Mas tem umas partes riscadinhas", me informa a chefa.
Então fico muito feliz, porque o livro, que custa R% 35,00 na livraria, sai por R$ 15,00 num sebo do Rio de Janeiro.
O ruim para quem mora no Recife é o gasto com as passagens.
Não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas no sábado, em meio a uma confraternização de novos amigos, conheci o doutor Ciro, pai da Bebete, outra chefa minha, porque sou um homem cercado de chefas por todos os lados.
Aos 77 anos, ele é um sábio que circula pelo mundo, com um jeito manso, gestos de Tai-Chi e palavras que deslizam como sereno pelos telhados.
Das muitas coisas lindas que falou, guardei uma frase:
"O ser humano não revoluciona, ele desabrocha".
Depois dessa, a palavra revolução mudou completamente de sentido na minha cabeça.
Fico por aqui. Vou dar uma volta, em busca de inspiração.
10 comentários:
Eu adoro os sebos...
A tua chefa comprou o livro pra ti?
Eu moro no Rio e estou sempre em sebos, que amo. Qualquer coisa, é só pedir, tamos às ordens!
Eita, Sama!
Nesses últimos dias, tenho andado com uma dificuldade danada em escrever. Tem faltado inspiração. Marquei um encontro com ela mais tarde lá em casa. Tomara que ela apareça.
Um abraço,
Dimas Lins
www.estradar.com
Escrever mesmo sem inspiração, apenas por força do ofício, pra você não chega a ser um sacrifício, muito menos uma iniqüidade. Sua habilidade de juntar as letras e criar frases fez com que suas linhas literárias chegassem até ao sebo carioca. Viu?! Daí pra o resto do mundo. Alexandre Cavalcanti, o também tricolor!!! Já somos 10º...
Sama, enfimmmm, te reencontrei e posso, se me permite dizer, lhe parafraseando, que você, SER HUMANO, em caixa alta, "desabrochou" de seu blog para os meus olhos. Como nada é por acaso, ontem estive, aqui em Sampa, numa aula-espetáculo de Ariano Suassuna. E, obviamente para mim, lembrei-me de você. Tenho um número que o Josmar me forneceu, mas não atende. Percebi que virou professor. Estou feliz por você continuar autêntico em sua estada humana.... bjs., Sol (valentim04@uol.com.br)
ahahah. Tb to assim... Ei, será que isso é ressaca dos chuviscos dos olhos do povo?
bjs
carol bolinho
Samarone, você vai para o aulão de literatura que vai ter esse domingo? :)
Sempre tive vontade de comprar livros em sebos, mas o máximo que eu já comprei foi livros didáticos para o colégio, que era $60 e eu acabava comprando por $25 =)
^^
Sama, mais inspiraçao, depois da ida a Meca e de tudo o que você nos presenteou? Rapaz, isso é até covardia com a musa. Ainda to digerindo aquelas andaças todas...
As calçadas da Av. Guararapes no sábado à tarde e - melhor - no domingo de manhã às vezes têm boas surpresas, dessas que já não há mais nas livrarias.
nada como um bom achado nos sebos, seguido daquela pechinchada de lei, com ar de desdém que é pro sebista não inflacionar o negócio...Sama, aqui na rede tem uma espécie de megasebo, com um bocado de lojas interligadas. Informo que o Clamor está rolando a preços variados...
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