segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Cenas de viagem com um trio de forró

São Paulo, 24 de outubro de 2005.


Cheguei sábado a São Paulo com uns amigos, para o jogo do Santa Cruz contra a Portuguesa. Levamos uma surra e tanto (4 x 1), mas fizemos uma festa enorme com a nossa “Sanfona Coral”.

Guardei três cenas desta viagem deliciosa com os amigos. Não são tão poéticas assim, mas servem para pensar.

Cena 1 – A doce velhinha

Estamos em uma estação do metrô, o trio toca um forrozinho lindo, somos um grupinho de oito pessoas, todo sorrindo, é uma bela tarde de sol em Sampa, o que não é tão comum. Uma velhinha se aproxima, faz um sinal positivo com o polegar, e fica nos olhando. Seus olhos brilham. Ela dá um jeito de entrar no mesmo vagão, senta e fica olhando, rindo. De vez em quando, faz um “legal” com o polegar. Creio que foi sua grande alegria do dia.

Cena 2 – Do paraíso para a morgação

Chegamos ao metrô Paraíso, a farra continua, começamos a dançar, enquanto o metrô não chega. Tudo é uma imensa alegria e beleza, até que chega um sujeito com roupa de segurança, armado com a truculência que a vida lhe deu.

“Eu sou o supervisor, e não autorizei ninguém a tocar nesta estação. Vou parar a composição para averiguar”, diz, com cara de mau.

Explicamos que viemos somente torcer pelo nosso time, que vamos ao estádio, que está tudo em paz. O sujeito está transtornado, quer nos levar para “averiguação”. Por sorte, o metrô chega, abre a porta e vamos emburacando. Ele nos acompanha, quer parar o metrô, mas é tudo rápido, já estamos a caminho. Faltou pouco para um animado forró terminar numa delegacia.

Morgação total entre nossa turma. O sanfoneiro amuado, o zabumbeiro sem graça, a triangueira triste. Sim, amigos, a alegria incomoda, fere, atrapalha.

Cena 3 – O tímido que vira truculento

Estamos no Shopping D, Zona Norte do Recife. É o ponto de encontro de todos os nordestinos que vão ao estádio do Canindé. A alegria é geral. Ficamos nos perguntando o motivo de tanto ódio entre os torcedores. Chega um torcedor da Portuguesa. Usa uma jaqueta com o nome “Leões da Fabulosa”, que é a torcida organizada da Lusa. Tímido, simpático, ele conversa com a gente, parece boa gente, come algo, toma uma cervejinha. Chegam mais dois amigos dele também meio tímidos, até comento que o cara que torce pela Portuguesa parece que está fazendo alguma coisa de errado.

Tudo está bem, nos preparamos para ir ao estádio, quando o rapaz tímido vê um camarada botando sua comida em um self-service. Usa uma camisa da “ Gaviões da Fiel”, a torcida organizada do Corínthias. Meu deus, esse rapaz franzino e tímido se transforma. Vira um bicho, começa a gritar dentro do shopping. Que vai dar porra, que vai quebrar, que vai fazer isso e aquilo. Ele não grita, vocifera. Os dois amigos o acalmam. O negócio é assustador. Saímos com nossa Sanfona Coral, vamos ao estádio, nos divertimos muito, mesmo com a derrota. Mas saio do shopping com a pergunta: de onde vem tanto ódio?

Domingo, a população brasileira votou pelo não no referendo: 63,94% dos votantes acreditam que o comércio de armas de fogo e munição não deve ser proibido no Brasil. Outros 36,06% votaram pela proibição.

Hoje, no jogo São Paulo x Corinthians, nada menos que 1.125 policiais irão trabalhar, para tentar conter a violência (e certamente usar da violência também).

Bem, a vida segue, com e sem arma, mas com os espíritos bem armadinhos.

E três vivas ao forrozinho lindo que fizemos dentro e fora do estádio da Portuguesa. Ao final do jogo, nosso time levando uma sova de 4 x 1, os torcedores da Lusa nos chamando de “cabeça chata”, nós estávamos era cantando o hino de “Elefante”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Com essa so vai pegando o Hino da Bahia "emprestado"

"Somos da turma tricolor
Somos a voz do campeao
Somos do povo o clamor
Ninguem nos vence em vibracao!"

saludos.

Anônimo disse...

Gente que nao sabe se divertir. Eu heim!

Ivana de Souza disse...

Porra, o placar e o jogo de sábado foram broxantes... Torcendo pra que a reação aqui no Arruda seja à altura.