sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Cronista segue sua peregrinação pelo semi-árido nordestino

Ah, amigos leitores, vou chegar ao final do ano com alguns débitos neste blog. Estou em uma caravana que vai percorrer mais de cinco mil quilômetros, até 23 de dezembro. Até agora, vamos com uns reles 2.300. Ufa la lá. Hoje consigo escrever algumas coisas em Arcoverde, numa lan house defronte à praça principal da cidade, que o sujeito me informou o nome, mas esqueci. Sei que aqui mora a Teresa, minha ex-aluna, mas não sei onde está o telefone de Teresa, que agora é mamãe e tudo o mais. O motoboy que me trouxe do Max Hotel, na BR, até a lan house, é muitíssimo desinformado. Perguntei a população da cidade, ele ficou em silêncio. Insisti e ele respondeu:

"Rapaz, é muita gente, visse!"

Oquei, garotão, meus leitores ficarão sem saber da população arco-verdense.

De manhã toma-se café, seguimos para alguma cidade, os palhaços e pernas-de-pau fazem uma apresentação, encerra-se a cerimônia, voltamos para a estrada, almoçamos, vamos para outra cidade, repete-se a dose, e à noite, pela graça divina, dormimos em algum hotel. Durmo ao lado de um palhaço e de um cara que cuida do som, o Valentim.

Vamos percorrendo a paisagem do Semi-Árido brasileiro. Antes de ontem, em Palmeira dos Índios, surgiram uns flamboyants que eu vou dizer. O vento quente é constante, mas à noite, em algumas cidades, passa aquele ventinho bom, sossegando a gente, uns ventinhos que levantam as cortinas da alma.

Tenho feito o meu exercício diário de olhar o povo. Em cada cidade, uma multidão de crianças e adolescentes aguarda a tal "Caravana do Unicef". Vejo uns sorrisos para lá de esperançosos, misturados com aquele jeito inocente de quem vive longe dos grandes centro urbanos. Enquanto os artistas se apresentam, vou entrevistando professores, agentes de saúde, diretores de escola, crianças.

Informo que tem, sim, muita coisa boa acontecendo neste país, que muitos projetos estão sendo tocados com seriedade e persistência. Em Traipú, a secretária de Educação conversou comigo e quando falamos de livros, seus olhos vazavam luz. A Dulcinéia (sim, como em Dom Quixote) me levou ao prédio onde funciona a biblioteca e vi o "cantinho da leitura". É ali que ela começa a fisgar as crianças para o mundo da leitura.

Converso muito com as crianças, evitando fazer aquela estúpida pergunta "o que você quer ser quando crescer?" Tenho perguntado coisas mais simples, que fazem parte do hoje: se na escola tem merenda, e se a professora é boa. Sim, amigos, a meninada está comendo na escola, e tem muita professora comprometida com educação. Em muitas prefeituras, os livros para 2007 já chegaram. A palavra compromisso ainda viceja em muitos grotões do Brasil.

Por conta da correria, não tenho lido jornais ou assistido TV, o que parece ser muito saudável para a saúde psíquica. Tive que trazer minha cota de livros, pois livraria é algo que não existe no interior do Nordeste.

Em meio a esse vendaval de cidades e gentes, já vou perdendo as primeiras confraternizações deste final de ano. Domingo é o aniversário de Emília, ela já sabe como sou, nem esquenta. Domingo é também o dia da confraternização da nossa torcida desorganizada "Sanfona Coral". Pelo andar da carruagem, parece que até a confraternização do Poço da Panela, minha eterna pátria espiritual, vou perder. Será a primeira vez, em cinco anos. Mas eu não me incomodo com essas coisas. Uma hora chego lá, puxo o banquinho, tomo umas com os amigos, e fica tudo certo.

Vou terminando o ano com as pata no mundo. Isso me deixa novinho em folha. É como se o cansaço físico devolvesse à alma o regozijo das vivências, dos olhares, dos sorrisos encantados das crianças, com os palhaços da Caravana. Vejo o povo brasileiro em sua infância. Queria tempo e espaço para relatar tudo o que tenho visto, escutado, presenciado. Vai ficar para janeiro, já que o Unicef pretende publicar minhas anotações de viagem.

Quando a poeira baixar um pouco, vou contar umas duas ou três histórias de crianças que andei encontrando, conversando e fotografando.

Fico por aqui. Vou ali, ver o ensaio do Côco Raízes de Arcoverde. Fiquem bem. Ou, como disse uma uruguaia ao velho amigo Gustavo, à saída de uma livraria, em Montevidéu:

"Merece-te!"

ps.não deixem de ler o blog do poeta Gustavo de Castro: www.razaopoesia.zip.net

12 comentários:

Anônimo disse...

conforme num claustro
sou eu o escuro

asseguro-me do sábado para não entrar no domingo
da minha alma.

a saudade silenciosa
abre espaço entre os cílios
da minha prisão
e aqui estás
iluminando a noite do meu caminho.

bjs
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzi

Anônimo disse...

com certeza Teresa ficaria muito contente em ver-te e mais ainda em mostrar-te o bebezão dela, que chamamos de BENTINHO quando deveria ser BENTÃO

Anônimo disse...

quer dizer que agora você também anda fotografando?
sei, sei...
beijo no coração

Anônimo disse...

Rapaz, tu estás fazendo uma coisa que sempre quis fazer. Eu tenho um sonho de fazer uma viagem maluca dessa. Andando de cidade em Cidade, fazendo fotos... colhendo imagens, expressões.. Quem me dera um dia sair de Recife e ir visitando um monte de cidadezinha pequena, até chegar na ultima das cidades pernambucanas...

Cadú

ps.: Como é que eu faço pra comprar o Clamor?

Anônimo disse...

Eita, que coisa bonita esse brasileiro apaixonado por gente, nossa gente... me emociono um bocado com essas leituras, e olha que nem comprei nenhum livro dele ainda, que maldade! Preciso deixar de ser má comigo, rs...

Ah, e já adicionei a favoritos a página do poeta indicado!

Como diz uma amigo "que beleza"!

Anônimo disse...

Delícias, sempre!

Anônimo disse...

Estou amando o seu livro... Ele tem sido meu companheiro na triste jornada de 45 dias de repouso após todo aquele estresse. Lamento muito não poder estar mais de corpo presente com vocês, mas você sabe que minha alma chega a cada uma das cidades, a cada sorriso dado por uma criança. Lamento também por não poder conversar pessoalmente com você sobre o Poço da Panela, seu Vital e tal (até rimou), mas essa semana já pedi a meu marido para me levar lá um dia e espero que nesse dia você possa me esperar na esquina e me mostrar toda a beleza desse lugar que deve ser incrível. Ainda não tive condições de ler as crônicas desse blog porque não posso passar muito tempo na frente do computador mas espero um dia ver aquelas anotações do caderninho aqui. Saudades suas, de Valéria, de Ana, Jane, Mateus, Franklin, Valentim, dos meninos de Arcoverde (Marcelo, Adriano e Vera) e, é claro, da trupe linda do Circo da Trindade (Regina, Hugo, Jaqueson e Anderson). Diga a eles, por favor, que meu coração se enche de lágrimas só de lembrar os momentos lindos que passamos juntos. Diga também ao UNICEF que não há nada mais belo do que o sorriso no rosto daquelas pessoas... vou escrever sobre isso quando a barriga parar de doer de vez - se bem que descobri que dor e prazer despertam a mesma região no cérebro humano.

No mais, a palavra é SAUDADE... MUITA...

Espero que todos nós não sejamos amigos de uma "viagem" só...

Beijos de uma palhaça que tropeçou e machucou o nariz vermelho...

Malu

Ps.: Você sabia que dr. Valdésio, o médico que me atendeu em Limoeiro, é primo de Alceu Valença? O médico que fez minha cirurgia disse que o conhece... Não é fantástico??? Espero que Valdésio não tenha se lembrado da música do "diabo loiro" quando me viu toda maquiada e gemendo naquele hospital. hehe

Anônimo disse...

Realmente Samarone, as crianças do Interior continuam com os corações puros, sem a influência da frieza e do egoísmo que reinam na cidade grande. Na última quinta-feira (14 de dezembro) fui à Santa Cruz do Capibaribe, no agreste pernambucano. Confesso que não tive criatividade na hora de conversar com alunos de uma escola pública, que por sinal era muito organizada (para encher de orgulho qualquer prefeitura), e fiz aquela pergunta estúpida. Hehehe. Pois bem, perguntei ao pequeno Rafael, de apenas 7 anos, o que ele queria ser quando crescer. “Quero ser um homem bom”. Respondeu o menino, me deixando de boca aberta e emocionada.

OBS: sempre leio o seu blog, desde o JC Online. Adoro os seus textos e, toda vez que termino de lê-los, lembro que perdi a chance de ser sua aluna na Católica por causa de um período. Que azar !! :) Abs

Anônimo disse...

Quanta coisa bonita por aí afora se a pessoa tem olhos pra ver. E essas professoras do interior, que gente maravilhosa. Minha avó foi uma dessas, lá no interior de Goiás.

Anônimo disse...

olá, Samarone!
Feliz Natal!!!Um maravilhoso 2007!!!
Obrigada por ter colorido nossas vidas em 2006, com tanta beleza, em forma de cronicas!
Abracos,
Claudia

Samarone Lima disse...

Cláudia, obrigado pelo feliz natal e maravilhoso 2007. Desejo o dobro para você;
Luiza, preciso do teu email. Dei o recado para a troupe, que está ca;a dia mais maluca;
Cadu: consegui um lote de Clamor, semana que vem saberei como vender;
E o menino dizer um "Quero ser um homem bom" é realmente algo maravilhoso.
Abraços,
Samarone.

Anônimo disse...

Dashwood do?
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