quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

O dia em que cheguei a Esperança

Já são vários dias na estrada, acompanhando uma Caravana do Unicef. Chegamos, a troupe de artistas faz uma festa imensa com a criançada, palhaços e pernas-de-pau arrancam sorrisos generosos, vou tomando nota de tudo, entrevistando gente. Após a festa, o prefeito recebe um selo de "Município Aprovado", e seguimos para outro canto. Já fomos para Bananeiras, Picuí, Araruna, voltamos para Bananeiras, hoje chegamos em Esperança. Isso só na Paraíba. Depois vem Pernambuco e Alagoas, que conheço bem. Escrevo de Picuí, porque as lan house de Esperança e Bananeiras são lentas, e não dá para postar nada.

O fato é que eu estava louco para chegar a Esperança. Só o nome da cidade valia a pena. Já imaginaram a pergunta:

"Você é de onde?"

"Esperancense".

Eu faria uma licença poética e responderia:

"Sou esperançoso".

Chegamos a cidade hoje, às 9h04 e pensem num sol do Semi-Árido paraibano. Num lugar simples, o prefeito João Delfino e quase todos os vereadores. Um carro de som foi designado para acompanhar a Caravana. Tocava o "Tema da Vitória", aquela música quando o Ayrton Sena ganhava, o que atrapalhou deveras o trabalho musical da Banda Sinfônica Prefeito Luís Martins de Oliveira, fundada a 1 de dezembro de 1973, atualmente com 24 músicos. Passamos pelo Supermercado Esperança, Sapataria Esperança, Esperança Temperos, e finalmente o Educandário Santa Catarina de Alexandria, uma santa que inclusive eu desconhecia por completo.

Alguém foi designado para ir soltando fogos, o que me preocupou intensamente, porque tinha muita criança no caminho. Chegamos ao Ginásio Vovozão. Parecia dia de clássico. Estava lotado até a tampa. Os palhaços e pernas de pau fizeram a alegria da criançada. Fiquei anotando tudo. Fiquei sabendo que em 2001, apenas 89,01% das mulheres faziam pré-natal. Ano passado, o número passou para 97,35%.

São muitos dados bacanas que o Unicef acompanhou e cobrou, antes de fornecer o afamado Selo, que dá um cartaz danado para a cidade.

Mas o meu negócio é gente. Conversei com o senhor Thierry Walquer, aluno da terceira série. Antes que me perguntem, o nome dele é esse mesmo, igual ao francês que lascou a gente na Copa. Ele resolveu, por conta própria, fazer uma rádio na Escola Municipal Professora Maria Lopes, e conseguiu o apoio da diretora. Todo dia, na hora do recreio, que aqui é 15h30, tem o programa dele, do Thierry, que tem um sorrisão imenso de bom. O camarada, um gordinho simpaticíssimo e voz de locutor, coloca músicas, dá recados, avisos sobre a coleta seletiva de lixo. E não tem esse negócio de construtivismo , piagetismo, nada, é na raça mesmo.

"Meus colegas estão adorando", diz.

Das 27 escolas do município (5.100 alunos), 17 já têm conselhos escolares registrados. Recebem verba diretamente do MEC, sem passar pela mão do Prefeito, um tal Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Governo Federal, que eu nem sabia existir. Aliás, cada vez mais que viajo pelo interior do Nordeste, especialmente o Semi-Árido, concorco mais com meu amigo Inácio França, jornalista da maior estirpe. Há brasis que não se encontram e nem sabem um do outro. Tem ricaço no Recife que gasta R$ 3 mil num almoço naquele restaurante Leite, e tem escola, por aqui, que faria uma revolução na cidade com metade desse dinheiro.

Foi uma manhã inteira de apresentações. Vi o Corpo de Danças Xique-Xique, um aluno de uma escola tocou flauta doce (a insuperável Asa Branca, música predileta de qualquer tocador de flauta doce), vi os alunos de uma creche dançarem, vi os alunos da APAE se apresentarem, vi a Capoeira de sempre, vi o coral "Cantando Esperança".

Vi mais que isso. Vi professores com os olhos brilhando com seus alunos, vi gente simples bem vestida, vi mães contentes porque os filhos estão sabendo ler, vi uma escola entupida de livros já para o ano que vem.

Saímos do Vovozão depois do meio dia, o sol nos cascos. O negócio é cansativo, não dá tempo nem chegar, fazer amizades, que o ônibus do Unicef já está saindo para outra cidade. Até dia 23, serão mais 28 cidades, creio, que andam se enchendo de esperança.

Vou correndo, que a Caravana está saindo. Perdão pelos erros, é que estou escrevendo às pressas, nem deu tempo falar do agente de saúde de Picuí que quase me fez chorar, mas isso é coisa para outro dia, quando a poeira baixar.

12 comentários:

Anônimo disse...

Esperança, a última que morre. Não é isso que dizem?

Anônimo disse...

Boa partida e boa chegada sempre... seja onde for!!

Anônimo disse...

Samarone, depois das histórias sobre aquela escola no Cabo, esse teu relato de hoje serve pra mostrar que na área da Educação no Brasil...ainda há Esperança, em toda parte. (eita, não deu pra evitar o trocadalho)

Anônimo disse...

E acho que enfim eu vi um homem ser feliz

Anônimo disse...

Samarone, gosto muito de ler suas crônicas, mas, desculpe a sinceridade, ultimamente você está caindo de qualidade. Muitos lugares comuns, frases feitas. Sei que você sabe fazer melhor. Não me leve a mal, mas acho que é uma crítica construtiva. Obrigado.

Anônimo disse...

Sr. anônimo
Estou aqui em defesa do cronista. Pelo que conheço do escritor, críticas construtivas são respeitadas, mas não há crítica mais sem criatividade e mais "lugar-comum" do que dizer que a pessoa anda usando "lugares comuns e frases feitas".
Nesta última crônica aliás, de frases feitas registrei apenas as feitas pelo próprio autor, que como todo grande pensador que se preze tem direito de se repetir de vez em quando. Ele bem que erra às vezes, mas "lugar-comum" não, Samarone me parece aliás bem autêntico. Pelo menos é o que eu acho.

Anônimo disse...

Caro anônimo, nem se preocupe com as críticas. Escrever tem isso mesmo de acertar, errar, fazer coisas boas e coisas ruins. Como estou no meio domundo, correndo de cidade para cidade, tenho tentado mostrar um pouco dessa realidade do interior do Nordeste, que algumas pessoas talvez não conheçam.
Bem, vou ver se melhoro na próxima.
Abraços,
Samarone Lima

Anônimo disse...

e no meio do mundo é separado. é que estou numa lan house em Limoeiro-PE, depois de sair do Recife, passar parte do dia em Camutanga e o restante por aqui.
Ufa!
samarone

Anônimo disse...

Samarone.
Boa viagem.
Grande abraço,
Priscila

Anônimo disse...

Sama uma boa viagem ve se chega logo, e essa crônica ficou legal apesar das críticas, concerteza o anônimo não está na correria q vc esta. Abraços

cometaurbano disse...

Sama, o seu blog deveria ter o selo de "aprovado em definitivo". Bom demais! Um abraço do mano PH

Anônimo disse...

Samarone,

Passando por aqui ... para matar as saudades do que vi nos últimos dois dias....Vamos para a estrada menino...hoje, é Flexeiras, amanhã Rio Largo e Arapiraca, depois eu volto e vocês seguem....Olha, só quem não sabe o que é a caravana é que diz que o que vc escreveu é lugar comum. Lindo e maravilhoso é ver os idosos e as crianças rindo, aquele riso solto, maroto, riso da esperança, da VIDA...

um cheiro, (com todo respeito, rsrsrsrsrsr)
Conceição Cardozo