Essa minha paixão por mapas e viagens não termina nunca. O objetivo era chegar em Bananeiras, no interior da Paraíba, algumas dezenas de quilômetros depois de Campina Grande, para mais um trabalho de campo - acompanhar a caravana "Selo Município Aprovado", um projeto do Unicef.
Para começar, perdi o último carro para Campina Grande. Fiquei no TIP a ver navios. Vendedor de passagem, no Brasil, só sabe dizer duas coisas: "O último carro saiu agorinha", seguido do famoso "sei não".
É preciso ir a uma banca de revistas para comprar um mapa. O vendedor diz que não tem mapa do Nordeste. Fuça-se as revistas, e lá está, um belo mapa do Nordeste. É fundamental não falar nada, porque ele está certo. Não tinha mapa nenhum, eu é que encontrei.
É preciso retornar com o mapa, mostrar a gloriosa cidade de Bananeiras. Marca-se a cidade com um círculo, de caneta preta.
"Amigo, preciso ir para esta cidade. Não posso passar a noite no TIP" (para não recifenses: Terminal Integrado de Passageiros, e fica no inferno da pedra).
O camarada lembra de um ônibus para Caruaru, depois um para Campina Grande, saindo uma da madrugada. O ônibus sai 21h30, dá tempo tomar uma sopa bem quente, com pão, a R$ 2,50.
Embarca-se. Todos os relógios do TIP estão quebrados. O terminal é sujo e abandonado. Ao lado, é importantíssimo viajar um jovem com seu filho pequeno, de até um ano. O menino me olha e começa a chorar. Lembro que preciso aparar a barba. O pai mal sabe o que é uma chupeta. Daqui a pouco, o menino está soltando berros. Antes de Caruaru, já quero saltar com o carro em movimento.
Enfim, na segunda rodoviária, busca-se o ônibus para Campina Grande. Só duas horas da manhã. Às 4h estarei em Campina Grande. Com sorte, toma-se um café com a turma da viagem. Perambula-se pela rodoviária. Compra-se uma revista. É meia noite, e de madrugada, o ônibus demora vinte dias para chegar.
Banheiro a R$ 0,50, café, leitura. Depois, um Todinho, outro café. Aparece uma lan house. Em todo canto do Nordeste agora tem lan house. Postagem no Blog. Ao meu lado, dois computadores ligados, todos no Orkut.
Algumas mulheres dormem no cimento, esperando algum ônibus. Duas lanchonetes estão abertas, com aquela conversa sem rumo das madrugadas em rodoviária. Estava escrevendo umas besteiras no velho caderno, um bebinho quis moeda. Ah, amigo, você já bebeu demais, penso em dizer, mas dou uma moeda. Que bafo!
Descubro que tenho uma tia e duas primas em Caruaru, mas é o fim da picada ligar tarde da noite para ficar só um pedacinho. A TV está ligada, num volume altíssimo. O Jô Soares ainda acha que tem alguma graça.
É preciso seguir. Bananeiras, me aguarde. Acabei de olhar no mapa. A cidade fica entre Solânea, Pirpirituba, Cacimba de Dentro e Belém.
Lembrei agora que meu pai costumava usar mapas, nas muitas viagens familiares. O cérebro da gente é um mistério. Faz associações malucas. Ontem mesmo, lembrei de uma sova que levei no Natal, onde minha carreta foi quebrada sem pena. Agora estou lembrando dos mapas das viagens da minha infância. Ah, acabo de lembrar que meu pai tinha um mapa do Campeonato Brasileiro. A cada rodada, marcava religiosamente os pontos dos times. Eu achava aquilo o máximo.
Deve ser associação livre, o que às vezes ocorre com o ser humano, e até com o ser desumano.
Ou é só lembrança mesmo, e a gente inventa de complicar. Mas a imagem do mapa é mais bonita que a da carreta. Fico com o mapa e vou por aqui, tangendo meu destino.
2 comentários:
Sama até q enfim crônica nova hehhehehehhe. Vêr se não demora muito pra fazer outra. Assustando criançinhas né Samore? Bom espero que vc tenha boa viagem, e lembra do blog, e nas nossas manhãs. Abraços.
vê, no caso.
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