sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Meu encontro com Rubem Braga

Há coisa de dois dias, num boteco do Rio de Janeiro, encontrei o Rubem Braga. Eu estava sentado, debruçado em meus papéis, tomando uma cerveja densa, quando levantei a cabeça, e esbarrei nele, que estava em uma mesa afastada.

O Rubem era aquele ainda moço, com aquela cara tímida e um pouco erma, de quando ele foi para a II Guerra, cobrir a luta dos pracinhas brasileiros na Itália. Parecia distante e melancólico, mas não era tristeza. Talvez fosse o dia, que não o desceu bem. Usava aquele bigode ainda talhado da juventude, e senti um frio na espinha, por saber que ele estava ali, bem perto. O velho Rubem, o velho Braga, que sempre me encantou por sua simplicidade, especialmente quando não tinha assunto algum, especialmente quando falava de passarinhos e banalidades.

Pensei em me levantar e cumprimentá-lo, mas a timidez não me permitiu. Olhei-o algumas vezes, na esperança de um olhar convidativo, mas nada. Ele fumava absorvendo o cigarro com prazer, e tomava algumas notas.

Voltei a escrever, mas já não sabia o assunto, bebi outra cerveja, e não percebi quando ele foi embora, em silêncio. O Rubem é daqueles homens que sequer fazem barulho, para levantar da cadeira.

À noite, em uma livraria, vi a biografia que acabou de sair, com sua foto na capa. Diz o autor que ele morreu há algum tempo, mas não acreditei. O Rubem está por ai, nesses passarinhos que buscam uma migalha de pão, no vendedor de girassóis que encontrei numa feira do Rio, sábado passado. O Rubem está na saudade, na carta que escreveu para o Vinicius, saudando a chegada de algum verão que passou, e que volta sempre. O velho Braga está na alegria da Angélica, que veio fazer a faxina aqui onde estou, e falou com os olhos brilhando da sua escola, a Beija Flor. O Rubem está em algum boteco de Belford Roxo, onde viveu e morreu meu avô, há tantos anos.

Aqui vai uma confissão aos meus leitores: Há dois dias, encontrei o Rubem Braga, num pequeno boteco do Rio de Janeiro. Eu estava sentado, debruçado em meus papéis, tomando uma cerveja densa, quando levantei a cabeça, e esbarrei nele, que estava em uma mesa afastada.

O resto, vocês já sabem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sem dúvida, um dos meus escritores favoritos.

Anônimo disse...

ah sim, ah sim, eu sabia que vinha mais, que sempre tem mais. tá linda essa que veio tão de dentro.
beijos
justine