Recife, 26 de setembro de 2005.
Um pouco de poesia, que ninguém é de ferro, e a preguiça está imensa.
(Florence, obrigado pelo olhar).
***
Um rio
Um rio incandescente
Molha meus dedos
Quando olho teu retrato
Colado à antiga parede
Que já não existe
Lembro dos teus dedos
Como guardanapos de pele
Que guardavam silenciosos
Minhas lágrimas
Então, volto a chorar de ti
***
Aos calcanhares
Não acorrentarei o amor aos calcanhares
A ponto de não poder andar
Para dentro de ti
Caminhemos,
Caminhemos para além
De todo o aço da certeza
Haveremos de ser felizes
Com alguma delicadeza
Haveremos de ser felizes
Mesmo com nossos calcanhares
de Aquiles
***
Resposta
Me perguntas pela vida
Como se fôssemos antigos conhecidos
A tagarelar na esquina
Sobre os fatos do dia
Meus olhos te respondem
com aquele mesmo silêncio
Das terras devastadas
Falo da vida, o que fiz ontem
E hoje
O que farei ao entardecer
Te conto como tem sido
Meus últimos trinta e seis anos
Por precaução
Evito te falar das coisas do coração
E ao final, como quem diz um até breve contigo
Murmuro para mim, na esperança que escutes:
Tua ausência me dói, é simples.
6 comentários:
fez muito bem esse "pouco d epoesia" numa segunda-feira. Depois da reunião de pauta, é obrigatório olhar teu blog. bj, eugenia.
Grande, Poeta!!! Maravilha!!! E, como estamos na Primavera, quero lhe oferecer esse de Cecília Meireles:"Houve um tempo em que os namorados se comunicavam através de flores:
não sei se diriam sempre coisas belas, mas as palavras de que se utilizavam eram rosas, cravos e cravinas, dálias e violetas, um dicionário imenso e colorido,
que se dispunha de diferentes modos, como fazem os poetas.
Lia-se em flores como, hoje, através do alfabeto.
Talvez com essa linguagem poética as pessoas se entendessem melhor."
Cecília Meireles
Aproveito para agradecer tanta coisa linda que você sempre nos oferece e desejar uma semana esplêndida.
Um cheiro, de mãe.
Enxugar-se com a toalha molhada
para ter o outro na pele.
Deitar-se na cama dormida
para ter o outro nos sonhos.
Alimentar-se com a colher lambida
para ter o outro na boca.
Calçar-se com sapatos usados
para ter o outro nos passos.
O amor ao outro
é o mais difícil dos poemas.
E não é por rimar com dor, cor, calor,
mas por não rimar com nada.
Ou talvez por ser o próprio nada
a preencher espaços em tudo.
Para amar não precisamos do outro,
não precisamos nem de nós mesmos,
não precisamos de nada.
O amor é que ncessita de nós
para continuar a ser ele mesmo.
Assim nos embaralha, corrompe, afaga:
o amor faz de tudo para não parar de amar.
Assim nos educa, destrói, desbarata.
O amor não está só no homem.
Vive dentro e fora dele.
Por isso precisamos da toalha, do colchão, da colher, dos sapatos...
Para que se possa também
enxugar-se com a pele do outro
deitar-se nos sonhos do outro
alimentar-se com a boca do outro
calçar-se com os passos do outro.
O amor ainda não aprendeu
que o homem não sabe amar.
Esse negócio de poesia. sei não
Grande Sama, até que enfim de reencontrei!!! Desde junho que te procuro. Teus textos fazem falta por demais, já estava pensando em fundar o MSS - Movimento dos Sem Samarone. Grande abraço do amigo que você conquistou em João Pessoa/PB (Não sei nem se vc já veio aqui, mas o considero como tal)!!!
Eita, Sama,
eu de ano em ano e tu nunca.
um cheiro.
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