terça-feira, 4 de abril de 2006

Pequena homenagem a um cidadão comum

Desde que vim morar aqui no Poço da Panela, sítio histórico às margens do Capibaribe, encontrei um sujeito baixinho, gordinho, voz estridente e sempre sorrindo de tudo. É certamente o nome mais repetido no Poço: Naná. Desde o primeiro encontro, nos tornamos amigos e chegamos àquela fase especial na amizade, quando um fala exatamente o que o outro estava pensando em dizer. Eu só o chamo de “Montanha”, porque ele parece mesmo com uma montanha.

Ele mora aqui ao lado, e sobrevive da sua Kombi, que roda sem parar, todos os dias da semana. Trabalha para um buffet, levando e trazendo material para festas, mas faz de tudo um bocado: mudança de gente que separou, retorno da mudança de gente que fez as pazes, andaimes para obras de restauração, leva os amigos tricolores para os jogos do Santa Cruz, carrega doentes para hospital, sem cobrar nada, transporta os jogadores de futebol do Poço, quando vão jogar fora, enfim.

E Naná leva, voluntariamente, 32 crianças para a Escola Municipal Nilo Pereira, de segunda a sexta-feira. Faz o trabalho sem cobrar nada, em duas viagens, logo de manhã. A primeira viagem sai às 7h, a segunda vai às 7h15. É um negócio simples, mas que está conseguindo mobilizar a comunidade para instalar uma escola na própria comunidade. Na última eleição do Orçamento Participativo, da Prefeitura, o Poço colocou, pela primeira vez, o ítem "Educação" em primeiro lugar.

Ele faz esse trabalho há três anos, faça sol, faça chuva, tendo trabalhando de madrugada ou não. Só não faz as viagens com as crianças, se a Kombi estiver quebrada. É o único momento em que ele fica aperreado, o sorriso some. É seu ganha-pão. Cada dia com o carro quebrado, deixa de “gerar na alta”, como ele diz, e vai tomando prejuízos. Depois, trabalha em dobro para recuperar.

Acompanho Naná neste projeto, e é sagrado nos encontrarmos todo dia, ali pelas 7h. Depois da segunda viagem, é sagrado também um pequeno café em Seu Vital, para o tradicional bom-dia, e rumamos para sua casa, onde Teresa, a esposa magérrima, faz um sagrado café forte, um “café de soldado”, como ela diz, e comemos algo.

Nos encontramos umas três, quatro vezes por dia. Não é raro, no final da manhã, ele chegar com um prato de comida, algo suculento, e colocar em cima da minha mesa, sem avisar nada. Outro dia, ganhei um pirex com uma delícia de abacaxi, presente da namorada, e o primeiro pedaço foi para o gordinho, depois para Seu Vital.

Trata-se da pessoa mais generosa que já conheci na vida, uma espécie de gente que tem muito no Brasil, apesar de não percebermos bem. Não fossem essas pessoas, a vaca já teria ido para o brejo. Você vai pedir algo a Naná, e ele tem um sim na ponta da língua.

Andréa Ferraz, uma grande amiga, está fazendo um documentário sobre ele. Muitas imagens já foram gravadas, tem depoimento de muita gente do Poço, cenas engraçadíssimas. Em certo momento, ela perguntou o que o deixava mais triste.

Naná ficou longos minutos procurando, entre os seus miolos, o que o deixava triste. Pensou, pensou. Um longo silêncio se instalou na filmagem.

Foi a única pergunta que ele não conseguiu responder.

Hoje ele completa 39 anos, e resolvi fazer esta pequena saudação a um camarada que sobrevive na raça, com sua Kombi pelas ruas do Recife, mas separa, todos os dias, um pedacinho do seu tempo para levar crianças da comunidade para a escola.

O nome disso, para mim, não é solidariedade nem trabalho voluntário. É amor mesmo.

nota aos leitores: Continuo tentando arrumar a bagunça que fiz no Blog. Há pouco, fui tentar organizar os links, mas consegui mesmo foi aumentar o tamanho da letra dos textos, o que não é de todo ruim. Faltou pouco para excluir o Blog de vez. Aguardo ajuda de qualquer parte do planeta, já que minha professora, Macksandra, está de greve por tempo indeterminado.

14 comentários:

Anônimo disse...

Naná

Espero que tú domine tudo de bom e maravilhoso hoje.
Pessoas especiais e verdadeiramente humanas como você é raro, que bom que vc é real.
Por isso Montanha preciosa, te desejo um FELIZ PARABÉNS.

um beijo

Bianca

Anônimo disse...

Parabéns Naná.Você também já mora no meu coração recifence.Beijos. Ana

Anônimo disse...

Sama,

Estive no último sábado, no comecinho da noite, lá em Seu Vital, justamente quando rolavam aquelas disputadíssimas partidas de dominó que você tão bem descreve aqui no seu blog.

Pois bem, não resisti ao convite, arranjei uma parelha e fui pro jogo também. Pra não perder a pose, afirmei que fazia parte da temida "Liga do Jordão", algo que de início soou como chacota, mas que se tornou coisa séria quando ganhamos mais de sete partidas seguidas.

Estavam lá pra não me deixar mentir Naná, Teresa e outras tantas figuras interessantes que você nos apresenta aqui na sua Coluna Social.

O que me deixou um pouco constrangido foi o fato de ter feito Seu Vital, essa figura respeitadíssima, ter perdido o jogo por mais de duas vezes - uma das quais quase de buchuda (6x1), o que não me fez conter os risos quando a cada toque levado, o nosso querido Vital gritava com sua delicadeza peculiar: "NÃÃÃOOO".

Abraços.

Mariana Mesquita disse...

Lindo texto, de acordo com o personagem que retrata... Ele merece. Beijo

PS-Gostava mais da cara antiga do blogue, era mais fluida a leitura...

Anônimo disse...

Oi Sama, te encontrei outro dia no Plaza... Fiquei tão triste, quando me virei p atender o telefone vc já n estava mais, queria tanto dizer que adoro seus textos, que me faz uma faaaaalta quando não tem nada novo e que à vezes eu até demoro mais para abrir o blog só para ter a certeza de que terão mais textos para ler!:)`Lembro de vc como professor e consigo imaginar perfeitamente vc falando tudo o que estou lendo aqui, na minha frente! As mudanças no blog ficaram boas, é verdade que sou uma pessoa que demora para me acostumar com as coisas novas se eu já gostava das velhas, mas é só chatisse minha. Beijão de Ludmila

Anônimo disse...

Pronto, esse menino!!!! Teu blog tá lindo de novo. A propósito, adorei ele verdinho.

Tô feliz que só de ter dado jeito. Mas preciso deixar claro que não teria conseguido sem o apoio técnico e moral de Riva, viu?

Um beijo e boa sorte pra nação tricolor amanhã!

Macksandra - a professora que não está de férias

Anônimo disse...

Bem Sama , ainda bem que "ela" (a professora) voltou, né? rsrsrs
O blog tá lindo sim!! Diferente do antigo mas ... lindo!
Acho que o bom da vida é isso: podermos renovar, modificar, atualizar as coisas nossas...
E pra vc Naná eu desejo tudo de maravilhoso que a vida possa te dar! Parabéns pelo dia e pelo belo exemplo!
Abraços em vc, Sama, e no seu amigo Naná.

Anônimo disse...

Ficou lindo o blog, parabéns... adorei descobrir que sabes usar as cores tão bem como usas as palavras...

Anônimo disse...

adorei o blog de cara nova, mas vc precisa explicar melhor essa história da namorada (a delícia de abacaxi que vc ganhou dela).
bjos,
te adoro.

Anônimo disse...

que bom que o espaço verde lateral foi preenchido.
Parabéns

Thelma disse...

O Naná é dez mesmo!!! Fiquei comovida com a história que contaste. Um abraço desde a Espanha para ele. Quando eu fôr ao Recife, irei ao Poço para conhecê-lo, às 7 h da manha.

Anônimo disse...

Samarone

Gostei na história do Naná. Me fez sorrir.

Grande abraço, Priscila

Anônimo disse...

Nana... Grande figura!!!!

Anônimo disse...

Samarone,

Linda homenagem que fizeste ao Naná.
Adorei ver reconhecido todo o carisma deste Ser Maravilhoso.
Ainda bem que a vida te fez encontrá-lo; Só assim podemos externar o que sentimos, através de tuas belas palavras.
Valeu meu amigo.