segunda-feira, 10 de abril de 2006

Um pequeno texto antigo

Esse texto estava datilografado, em uma pequena e finíssima folha azul, dentro de um caderno meu, de 2002. Achei que seria bom compartilhar.
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Minha voz intransigente descia a escada da vida, desamarrando meu queixo duro, dentes que roçavam um no outro, arrancando a alvura amarelada. Meu corpo aquietava sua febre , sua fome, seu último desvendar que me assustava.

Sempre quis chegar a este ponto, ao movimento de uma prece sem mãos, de uma dança sem chão. Mas esse querer, mais antigo que a fabricação da minha infância, me roubou as horas dadas pela vida, essas horas que nada pedem, a não ser o vagar pelas ruas recém-descobertas.

Fiquei mudo, em respeito à escada da vida, adormecida no chão avermelhado, aceitando meu queixo despreparado para o embate.

Senti que meus dentes agora somente mordiam frutas, sem conseguir feri-las como minha fome.

Então percebi que minha fome já não mais me feria.

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