terça-feira, 2 de maio de 2006

Relato sobre a tradiconal "festa surpresa" para Vital e Severina

Como acontece há uns quatro ou cinco anos, aqui no Poço da Panela, fizemos no Primeiro de Maio a tradicional "festa surpresa” para Seu Vital e Dona Severina. Para quem não sabe, Seu Vital é o dono da venda-boteco-abrigo emocional para nós, moradores aqui do Poço. É nosso pajé, apesar de muita gente só conhecer ele como brabo. Dona Severina é sua esposa ou “sócia”, como ele costuma chamar. Quem organiza a festa somos nós, uns malucos da Confraria dos Amigos do Poço, integrantes do que denomino “sociedade civil desorganizada”.

Sim, porque fazemos as coisas mais malucas na base do improviso, fazemos cotas entre os amigos, passamos o chapéu, vamos tocando a pelota de canela, aos trancos e barrancos, e tudo parece funcionar como aquelas coisas do budismo, sempre dá certo no final, e se não deu certo, era porque não era o final, não sei onde li isso.

O dia começou chovendo muito. Lá pelas tantas, o céu clareou e chegou o carro do Bptran, para iniciarmos o “tradicional passeio ciclístico”. Sim, porque depois de dois anos, tudo vira tradicional por aqui. Este ano, se inscreveram 154 pessoas da comunidade, sendo 73% crianças, 12% adultos, 7% velhos e 8% organizadores.

O passeio foi até o Parque da Jaqueira, e o único problema foi o carro do Bptran, que atolou o pé para terminar o trabalho logo. Resultado: o passeio acabou sendo uma acelerada corrida até a Jaqueira, cruzando sinais vermelhos os mais diversos, até o retorno ao Poço, todos com a língua de fora. Informo que registramos quatro bicicletas quebradas.

De volta ao Poço, tivemos o tradicional discurso de Vital e Severina. Avaliaram que Seu Vital está cada vez mais parecido com Miguel Arraes. Depois, tivemos o tradicional sorteio da tradicional bicicleta, e quem ganhou foi Teresinha, esposa de Nana, gerando suspeitas de uma grossa marmelada, afinal, Nana é um dos integrantes da Confraria. As suspeitas foram desfeitas após consultarmos os nomes nas fichas. Tinha o nome de Teresa somente uma vez mesmo, foi intriga da oposição.

Encerradas as atividades criançais, passamos às garapas mais diversas, enquanto o dominó comia solto dentro da venda. Nos foi servida uma feijoada suculenta, e Seu Vital lamentou profundamente estar com uma inflamação nos olhos. Ficou só olhando a feijoada, que estava supimpa, lambendo os beiços. Se vingou na cerveja.

Acusamos a presença do médico de Seu Vital, que esqueci agora o nome, um fato da maior importância. Afastando definitivamente os rumores de que Seu Vital tem algum problema grave de saúde, o médico fez um brinde com nosso mais famosos habitante, e temos registro fotográfico. Vital andava bebendo escondido dele mesmo, diante das pressões familiares, mas ontem ficou aliviado. Na verdade, recebeu um salvo-conduto para as cervejinhas, e agora vai ser fogo segurar o velho.

O dominó foi disputadíssimo e joguei novamente com o Zinho, nosso Garotinho. Ao contrário do domingo, quando metemos 11 x 0 em Vital e Santino, não estivemos bem, eu confesso que estava desatento, e amargamos um 6 x 5, num final dramático, quado errei um lance. Não foi de todo mal, porque não levamos uma buchuda com casa cheia. Do lado de fora, debaixo do pé de cajá, dominó corria frouxo, um dominó esquisito, todo vermelho e banco. Era o dominó do alvirrubro Tony, que ele ganhou quando era pirralho, presente do ilustre jogador Jorge Mendonça.

Tony repetiu 122 vezes que o dominó foi presente de Jorge Mendonça, que morreu outro dia. “Chorei muito quando recebi a notícia”, confessou. Tony só foi embora quando Cioba prometeu guardar o dominó e entregá-lo no dia seguinte.

“Esse dominó ganhei de presente do Jorge Mendonça”, repetiu pela 123a vez.

Duda, como sempre, estava chatíssimo. Não registramos arengas, a não ser um mal entendido entre a professora Lucidélia e Zé Luis, porque a professora ficou empurrando o jornaleiro, já bicado, para cima de Zé, enquanto ele jogava dominó. Zé perdeu a peleja e ficou chamando a professora de "criança". O Professor Davi não trouxe o violão, mas bebericou bem. Lulu desfilou com sua eterna alegria e levou presente para os aniversariantes.

A roda de samba que João Valadares prometeu trazer, em arroubos de empresário, ficou mais uma vez na conversa fiada. Exibimos várias vezes o pequeno documentário feito por Andréa Ferraz com Marcelo Barreto, sobre o aniversário de 2005. Todo mundo adorou. Hoje, será exibido na sede da Associação de Moradores. Os oito litros de Pitu que Gugu trouxe, foram consumidos sem maiores dificuldades. O jornaleiro tricolor terminou a noite sentado na calçada, conversando com o chão. Teresa separou algumas latas de “Pitu Cola” na geladeira, para o lanche do neto Gabriel. Hoje, depois do recreio, era para o menino estar mamadinho, mas Nana percebeu e alertou:

“Teresa, isso aí é cachaça com Coca Cola!”

Hoje será o dia de relembrar a boa festa, que só terminou ao anoitecer, com todos mamadinhos e felizes. É a pequena arte da amizade, da partilha, da cumplicidade amorosa. Amanhã já temos um novo rund, porque o taurino turrão aqui completa 37 anos. Hoje à noite, dona Ermira, chega ao Recife. Deve vir com a sacola cheia de cremes para meus cabelos. Já estou é vendo, na hora em que ela me ver, no desembarque.

“Mas meu filho, seu cabelo está tão seco...”

Ao chegar em casa, vai olhar minhas roupas, dizer que estou "sem roupa nenhuma" e reclamar porque ainda não casei.

Já conheço a fera. Se amanhã algum leitor me ver em lojas pelo centro, fazendo um crediário, é porque dona Ermira está no pedaço. Como dizem por aí, "mãe é mãe".

6 comentários:

Anônimo disse...

Bacana seu vital ter amigos assim. Tava lendo sua crônica de sábado e me lembrei de meus delitos também (pobre de quem não os teve). Acho que eu era um cheira-cola de classe média. Vou fazer como você e tentar me perdoar. Feliz aniversário e obrigado por nos presentear com suas crônicas!

Anônimo disse...

Hj, véspea de seu aniversário, vou prabenizar D. Ermira...
Por que?
Por ter tido um filho tão espirituoso, bacana, simples, amigo dos amigos, enfim, um tipo de pessoa dificil de encontrar hj em dia!!
Portanto D. Ermira, parabéns, viu?
Mas não fique triste não Sama... amanhã pode ter certeza de que não vou esquecer de vc!!
Beijos Taurino turrão.

cometaurbano disse...

Sama, FELIZ ANIVERSÁRIO! Paz, saúde e muitos amigos, sempre. Um grande abraço do mano ainda em terras mineiras, PH
P.S não sei de onde saiu esta identidade de blog, mas vou usá-la.

Anônimo disse...

Verdade...fiquei devendo..é pq começou a chuva..e chuva...chuva...e depois cerveja..mais cerveja..e a roda foi ficando quadrada..e foi isso..fiquei devendo mesmo..mas tu tb me deve um bocado...ficou um pelo outro...ou melhor..ainda tenho crédito..
João Valadares

Anônimo disse...

humm, pra igreja ninguém me chama!!! Qd estou por aí, não ocorre esses procedimentos...muito boas risadas...

Anônimo disse...

Adorei o relato da festa. Quase morro de rir com o caso da Pitu-Cola, escondida por Teresa.
Samorone querido, você é mo mínimo, o máximo...