quinta-feira, 18 de maio de 2006

Um cronista e suas teorias malucas

Amados leitores, me desculpem a demora em atualizar o Blog, mas é que andei ocupado em tentar consertar o mundo, e o mundo está muito trabalhoso. Tentei fazer remendos, botei umas soldas aqui e ali, conversei com uns e outros, mas cheguei à conclusão que é um projeto muito grande, este de querer ajeitar o mundo. Cansei logo aos quinze minutos do primeiro tempo. Olhei para um lado, para o outro, e cheguei à conclusão que é melhor mesmo escrever minhas cronicazinhas, que pelo menos eu fico mais feliz.

Pois bem. Ontem no glorioso Tepan, contei ao César Maia que estou escrevendo um Livro das Teorias. Ele quis saber detalhes. Citei exemplos.

Exemplo 1: tenho uma teoria de que quanto menos o sujeito entende de futebol, mais alto ele fala. Na mesa, estavam Gilberto e Giba, dois pernas-de-pau em se tratando de futebol. Eles não entendem uma grama de futebol, e não falavam na mesa - urravam para o Tepan inteiro. César Maia concordou comigo.

Tenho outra teoria: a de que quanto mais o sujeito está num carro novo, espaçoso e com ar-condicionado, menos tolerante ele é.

Você pode fazer o teste. Vá pelas ruas do Recife. Vem aquele velhinho numa Brasília 1976 ou 1977, caindo aos pedaços, o pára-choque amarrado com um barbante, com IPVA vencido, pneu careca, retrovisor rachado pelas intempéries da vida. Você quer entrar, ele pára de longe, faz sinal e diz para você passar. Melhor que isso: ele sorri, antes de engasgar o carro, e sair, mansamente, achando que não adianta ter pressa, o melhor é sair na hora certa.

Agora, lá vem um Honda Civic 2006, ar-condicionado, CD, DVD, Karaokê, banheira, frigobar, forno de microondas, sala de lazer, churrasqueira, piscina, quadra de tênis, o escambau. O sujeito não abre nem a pau, tranca o cruzamento, bota pra foder na buzina. Pior que isso: está sempre de mau humor por algum motivo que nem Freud explica.

Outra teoria: quando a gente entra no mestrado, descobre que é burro.

Aconteceu comigo e com vários amigos. Você é um bom profissional, dá conta do recado, lê seus livrinhos, vai ao cinema, tem uma base crítica, não é nenhum babacão, mas resolve fazer o mestrado. Na primeira semana, você descobre que o mundo está discutindo coisas muito mais interessantes, que suas leituras são magricelas, que você é meio burrinho mesmo. A sorte é que no segundo semestre, você já leu que só um camelo, começou a falar coisas interessantes, e não se acha mais tão burrinho assim.

Teoria número quatro: crítico de cinema vê o filme que você viu, mas é outro filme.

Tirando a Luciana Veras, do Diário de Pernambuco, que gosto muito, crítico de cinema parece que vê sempre outra coisa. Quando a gente vê um drama humano, um sofrimento para repensar a vida, o cara acha que Holywood está em crise, e não acerta o paradigma de uma estética existencialista. Quando o filme é aquela coisa cabeça do início ao fim, e você sai do cinema com dor de cabeça, querendo tomar umas para relaxar, o crítico entende que “a estética inovadora deu um novo pulso à narrativa, optando pela pluralidade”. Dá vontade apenas de dizer: é ruim, heim?

Outra teoria: cachorro é a cara do dono.

Podem olhar. Vem um gordinho, o cachorro é gordinho. Vem uma madame empiriquitada, o seu poodle parece uma boutique.Vem um sujeito meio vira-lata, ao seu lado estará um vira-lata.

Teoria seis: tem gente que só vai ao cinema comer pipoca com a boca aberta.

Eu realmente não entendo. Assisto vários filmes aqui em casa, nunca vou ali, fazer uma pipoquinha. Nenhum amigo que assiste filme comigo tem fome de pipoca. Mas você chega ao cinema, senta, e lá vem o sujeito, com a namorada, e uma saca de pipoca. Não, não é um saco, mas uma saca, de 12 quilos. O sujeito vem e senta ao seu lado. O filme começa. Ele joga as pipocas na boca e amassa, com a boca aberta. Srec, srec, srec. O cara não vai ao cinema para ver um filme, mas para saciar uma tara íntima de comer pipoca no escuro, com a boca aberta, coisa proibida em casa. Essa teoria eu detesto, mas é verdade.

Outra teoria: em casamento, padre só fala em traição.

Não sei qual a formação atual dos padres brasileiros, mas eu, que moro ao lado de uma igreja, onde são realizados muitos casamentos, posso dizer – padre tem uma tara punitiva e complexa pelo tema da traição. No sermão, eles acham que a humanidade não pára de se comer. Pode ser verdade, mas ele precisa dizer isso justamente na hora em que pergunta se o sujeito vai ser fiel na doença e na pobreza, na tristeza e na angústia?

Teoria oito: do jeito que as coisas estão indo, o PT vai acabar tendo o PFL como vice.

A briga pelo poder ficou tão maluca, é tanta foiçada de tudo que é lado, que daqui a uns dias, vamos encontrar esta pérola: Para prefeito de Bezerros: Zeca bigode (PT). Vice: João Matuto (PFL). Meu medo maior, no entanto, é um casamento de Sísifo com a pedra. para presidente: Lula. Para vice: FHC.

Eu garanto que vou me mudar para a Turquia, e torcer pelo Talagharesa.

Bem, vou encerrando por aqui. Tenho mais 36 teorias já anotadas no meu caderno, e não quero encher a paciência dos meus leitores com minhas besteiras, que parecem intermináveis.

11 comentários:

Anônimo disse...

Por favor, encha!
O saco da gente tá vazio e pronto para screc screc suas crônicas!

Anônimo disse...

Teoria nove: cara, vc é dez!!!!!

Anônimo disse...

Sama, meu querido amigo, há muito não entro no seu blog. Como ele tá diferente. Gostei do visual verdinho. Passei pra deixar um xero bem grande e dizer que mesmo sem ler suas cronicas há algum tempo, continuo viajando nelas. Afinal, mainha não perde uma sequer e depois ainda me conta todas!
Saudades!!!!!!!!!!!!! Beijinhos meus e do pequeno Bento, que não pára de mexer no meu barrigão!
Tê Padilha

Anônimo disse...

ecoa no leito
percorrendo o meu peito
essa dor.
corta toda,
o sujo permanecerá imundo,
assim sem jeito.
e na clareza do fato,
o mistério!!

Anônimo disse...

Não entendi o espanto com a teoria oito... se são tão parecidos, até nos golpes, no favorecimento aos rentistas, nas esmolas aos pobres, no cinismo, na opção preferencial pelos americanos e banqueiros e latifundiários e pelo resto da quadrilha...

Anônimo disse...

Já escrevestes coisas melhores... sinto, mas essa aí tá muito ruinzinha. Desejo boas inspirações.

Anônimo disse...

Uma correção. Gilberto e Giba são a mesma pessoa (sic). Os dois pernas-de-pau em questão eram Barreto e Giba. A informação de que eles não entendem nada de bola é verdadeira.

Anônimo disse...

... e por falar em cinema, sama, vai ver o SUITE HAVANA, tu vai se despedacar...

seu gandula
gustavo.

Anônimo disse...

Gostei muito das teorias... Não vejo a hora de ler outras!!! Grande abraço e um excelente final de semana.

Priscila

Anônimo disse...

Muito boas as teorias. Mas, cá pra nós, esse negócio de que tu "vai se despedaçar" comentado pelo teu gandula (segura as bolas, é ??), sei não, hein ?? Brincadeirinha....

Fernando Cezar disse...

Teorias?
Muito do que foi dito já está passando à prática...